Não é à toa que Leônidas da Silva mereceu o invejável apelido que virou nome do chocolate mais famoso do País: Diamante Negro.
Considerado um dos deuses do futebol brasileiro, foi goleador nos dez times em que jogou. Pela Seleção, entrou em campo nas Copas nas Copas de 1934 e 1938. Vestiu a camisa 37 vezes e fez 37 gols, marca exclusiva até hoje. Sua consagração foi mesmo no São Paulo. Mas atuou também no Vasco da Gama, Flamengo, Botafogo, São Cistóvão, Syrio Libanez, Bonsucesso e no Peñarol do Uruguai.
Credita-se a Leônidas invenção da “bicicleta”, o mais belo dos lances do futebol. Campeão várias vezes, o maior ídolo do São Paulo deixou de jogar em 1951. Mas continuou atuando fora dos campos ao emprestar sua voz para o rádio. Ao lado do lendário narrador Fiori Gigliotti, o “Diamante Negro” analisava os lances das partidas. Tornou-se também dirigente do clube o Morumbi, o São Paulo.
Seu Leônidas da Silva, nascido no Rio, faleceu em São Paulo, em janeiro de 2004, aos 91 anos, acometido pelo mal de Alzheimer.
Lembro-me de quando fui fotografá-lo, em São Paulo. O “Diamante Negro” foi o primeiro dos históricos oitentões e noventões brasileiros que retratei e entrevistei para o livro “Senhores e Senhores”, projeto para a Bolsa de Cultura que recebi da Fundação Vitae em 1991.
Recebeu-me em seu pequeno apartamento da Rua Conselheiro Nébias, no Bairro de Santa Cecília, em São Paulo, ao lado de dona Albertina, a segunda esposa. Ainda me recordo do agradável sabor do café e do croissant que o casal gentilmente serviu e do som baixinho da “Primavera” de Vivaldi. Na parede, algumas fotos que testemunhavam sua glória. Numa cristaleira colocada perto da janela, alguns troféus, medalhas e uma pequena estátua de Zumbi dos Palmares que, por sua história, deu inspiração para o Dia da Consciência Negra.
Elegantemente vestido e voz tranquila, contou-me por mais de duas horas os grandes momentos de sua vida. Segredou-me que gostava de ouvir falarem da qualidade de seu futebol. Ao final da conversa e da pose para minha foto, levou-me até o elevador. À porta, ao despedir-se, disse-me:
– Como vês, meu jovem, fiz de tudo no mundo do futebol. Inclusive ser fã do príncipe Garrincha e do rei Pelé.
Já fotografei dezenas, centenas, talvez milhares de personagens em minha longa vida de jornalista. Mas poucos, pouquíssimos, com nobreza e fidalguia idêntica à de Leônidas da Silva, o “Diamante Negro”.
Orlando Brito