No momento em que Joaquim Cruz viu a entrega da Medalha de Ouro dos 800 metros nas Olimpíadas do Rio ao queniano David Rudisha com certeza se lembrou de 32 anos atrás, quando ele era o atleta que recebia a mesma premiação. Em 1984, Cruz batia o recorde da modalidade, com 1m43s. Foi o único Ouro do Brasil em Los Angeles.
Hóspede da vila Olímpica, na Universidade da Califórnia, treinava diariamente, alternando a companhia de Zequinha Barbosa e Egberto Guimarães, corredores dos 1500 metros. Foi recompensado. Derrotou o inglês Sebastian Coe, favorito da prova. Para obter esse feito histórico, Joaquim empreendeu uma longa seqüência de treinamentos, que começou quando era adolescente, em Brasília. Hoje, cinquentão, Joaquim Cruz mora nos Estados Unidos, mas administra um centro de formação de novos atletas em Taguatinga, a mesma cidade Satélite em que nasceu, no Distrito Federal.
Como foi – Evidentemente, muita coisa difere uma Copa do Mundo de uma Olimpíada. Copa é disputa de esporte coletivo, equipe, conjunto. Os Jogos, também. Em parte, pois as competições individuais são tradição desde a Grécia antiga. Numa Copa, a gente torce para nosso país, nossa bandeira, nosso time. Numa Olimpíada, esse caráter de nacionalidade fica em segundo plano.
Todo mundo se recorda da histórica chegada da maratonista Gabriele Andersen ao estádio de Los Angeles. Depois de correr 42 quilômetros, ela cruzou a faixa cambaleando, numa incrível demonstração de persistência. Quem não a aplaudiu? Era secundário saber em que país Gabriele nasceu.
Aquele que realmente é fã dos esportes quer ver a superação de novos recordes, o avanço dos limites do ser humano. Foi com esse conceito que desembarquei nos Estados Unidos, fotógrafo de Veja. Já havia fotografado de tudo. Gente morrendo, gente nascendo, polícia, ladrão, ditaduras, artistas, Pelé, mulher bonita, reis, presidentes, todo tipo de matéria. Mas atleta recebendo Ouro Olímpico era a primeira vez.
Eu tinha de cobrir as matérias de Dorrit Harazin, encarregada dos esportes individuais, e Augusto Nunes, dos coletivos. A colega jornalista pediu-me atenção maior ao “futuro campeão Olímpico, Joaquim Cruz”. Não hesitei. Antes das oito da matina eu estava na vila dos atletas para fotografá-lo treinando. Dias depois eu estava diante do novo recordista mundial, tal e qual a sábia Dorrit havia preconizado.
Confesso que, embora jornalista calejado e acostumado a conter a emoção diante de uma infinidade de fatos, desta vez o coração pulsou mais forte quando o Hino Nacional do Brasil ecoou no Coliseum lotado. Ah, Gabriele Andersen nasceu na Suíça.
Orlando Brito.