A cerimônia de apresentação dos aviões caça Grippen, na Base Aérea de Brasília, nessa sexta-feira, teve um lance curioso.
O ministro do Meio-Ambiente, Ricardo Salles, havia publicado em sua página no Twitter o seguinte post, dirigido ao general Luiz Eduardo Ramos, chefe da Secretaria de Governo da Presidência da República:
— @MinLuizRamos [Luiz Eduardo Ramos] não estiquei a corda com ninguém. Tenho enorme respeito e apreço pela instituição militar. Atuo da forma que entendo correto. Chega dessa postura de #mariafofoca”.
Era um resposta a uma notícia publicada pela colunista Bela Megale, do jornal O Globo. Segundo a nota, o general discordava da retirada dos brigadistas do Ibama da frente de combate às queimadas no Pantanal Matogrossense. E também que Ricardo Salles esticava a corda com a ala militar do governo para testar blindagem com Jair Bolsonaro.
O “bate-boca” resultou clima desagradável em torno do assunto, com rumores de descontentamento em vários lados: do gabinete de Jair Bolsonaro aos oficiais de alta patente das Forças Armadas.
Porém, durante a cerimônia que marcava também o “Dia da Aviação”, em homenagem a Santos Dummont, aconteceu um lance inesperado. Num determinado momento, estavam juntos na mesma cena Jair Bolsonaro, Ricardo Salles e Luiz Ramos. E olha que o ministro do Meio-Ambiente até mereceu abraço do presidente.
A solenidade seguiu com a aparência de que o mal-estar desfez-se. Bolsonaro e o comandante da Aeronáutica, brigadeiro Antonio Carlos Moretti Bermudes, fizeram o batismo de adoção à frota da Força Aérea Brasileira do avião de combate com esguichos de champagne. Estavam lá também, além do vice Hamilton Mourão e da embaixadora da Suécia, vários ministros e adidos militares de outros países, inclusive o da China.
Pela segunda vez na semana, viu-se o clima esquentar no seio do poder envolvendo ministro militar. O própio Jair Bolsonaro desautorizou o da Saúde, o general Eduardo Pazuello, após este declarar que o governo compraria 46 milhões de doses da vacina para imunização do Coronavírus. A forma como o senhor presidente abordou a questão do medicamento — que tem origem na China e está em pesquisa no Instituto Butantã, em São Paulo — foi considerada pouco adequada. Tanto que, na quinta-feira, para amenizar o desconforto, Jair Bolsonaro foi ao encontro do três estrelas do Exército. E pelo que se diz, as coisas se ajustaram porque o general, acometido pela Covid, disse ao presidente que uns mandam, outros obedecem.
Há rumores de que as palavras de Ricardo Salles não foram de responsabilidade própria. Teriam sido inspiradas no desejo dos filhos de Jair Bolsonaro. Eles, segundo se diz, pretendem a saída de Luiz Ramos da articulação política do Palácio Planalto com o Congresso. Algo parecido com o destino do também general Santos Cruz, que deixou o governo em consequência de movimento semelhante.
Fotos Orlando Brito