Bom para esse momento de sobressalto que o Brasil vive.
Um pouco de História: setembro, há 48 anos. Muito atual.
1973. O Brasil vivia o nono ano de governos militares, desde que, em 1964, o marechal Castello Branco subiu ao poder, depondo do Palácio Planalto o presidente João Goulart. Depois de Castello, os generais Costa e Silva e Garrastazú Médici ocuparam a presidência da República. Nesse período os partidos políticos foram extintos e em seu lugar foi criada a ARENA – Aliança Renovadora Nacional, que dava sustentação ao governo. E também o MDB – Movimento Democrático Brasileiro, que acolheu os segmentos de oposição.
O deputado Ulysses Guimarães, que apoiara a chamada Revolução de 64, passou a discordar dos critérios democráticos da conjuntura então vigente e tornou-se combativo, destemido, incansável e admirado líder da oposição no Congresso, ao lado de outros nomes igualmente importantes. Tancredo Neves, Franco Montoro, Mário Covas, Jarbas Vascocellos, Paulo Brossard, Teotônio Vilela, Fernando Lyra, Marcos Freire etc. Sua palavra dava norte aos brasileiros contrários ao golpe dos militares.
Durante o regime dos generais, os presidentes eram escolhidos por via indireta, ou seja, pelo Colégio Eleitoral, sem participação popular. E em 1973 era chegado o momento da substituição de Garrastazú Médici. O escolhido para sucedê-lo foi Ernesto Geisel, da arma de Artilharia do Exército. Para opor-se ao general Geisel, Ulysses Guimarães lançou-se candidato. Com o jornalista Barbosa Lima Sobrinho de vice.
Em 23 de setembro daquele ano, o dia do lançamento da chapa que ficou conhecida como “anti-candidatura”, Doutor Ulysses pronunciou na tribuna da Câmara um discurso que entrou não somente para a história do Congresso, mas do Brasil e da resistência ao regime militar. Inspirou-se num poema de Fernando Pessoa, em que o escritor português diz:
– Navegar é preciso, viver não é preciso.
A citação cabia perfeitamente para o momento. O próprio Ulysses explicou porque razão escolhera tão famosa e marcante estrofe da poesia:
– Simboliza a importância de um ideal, no caso a perseverança em marcar posição contra uma situação indesejada, tornando esse ideal até mais importante que a própria vida. Para relembrar, amigos, façamos uma viagem à Roma Antiga. Isto foi o que disse o navegador Pompeu, ainda no Século I, encorajando seus marinheiros, amedrontados no meio de uma tormenta.
Orlando Brito