Durante o regime militar que dirigiu o Brasil de 1964 a 1985, havia o clamor pela volta de líderes forçados a buscar exílio no Exterior. Com a Lei da Anistia, finalmente sancionada em agosto 1979, personagens que tiveram seus direitos políticos cassados pela Revolução puderam retornar ao País.
Um desses foi Miguel Arraes, deposto do cargo de governador de Pernambuco em 1964. Foi preso. Primeiramente em uma cela do IV Exército, em Recife. Depois, confinado por onze meses na ilha de Fernando de Noronha e, ainda, na Fortaleza de Santa Cruz, no Rio. Amparado por um habeas-corpus do Supremo Tribunal Federal, conseguiu asilo na Argélia. Acusado de subversão, foi condenado à revelia pela Justiça Militar pernambucana.
De volta ao Brasil, foi ovacionado por uma multidão de 50 mil pessoas em seu desembarque. Para retomar a vida pública, doutor Miguel Arraes de Alencar fez várias viagens pelo País, voltou a fixar residência em Recife e, sobretudo, manteve contato com líderes da oposição.
Pois foi durante um encontro com Ulysses Guimarães, que fiz essa foto aí para a Veja, revista para a qual eu trabalhava. Observei Miguel Arraes observando o movimento da rua, olhando pela janela do apartamento onde morava doutor Ulysses, então presidente do PMDB. Achei muito significativa a ocasião: parecia apreensivo, ainda temeroso. Deixava para trás os anos de chumbo e, agora com as luzes da democracia, mostrava novamente sua face. Ao retomar a carreia na política, elegeu-se duas vezes deputado federal e governador.
Arraes faleceu em 2005, aos 89 anos. O Palácio das Princesas, que ele habitou em três ocasiões, foi também ocupado por neto Eduardo Campos, falecido num acidente aéreo em Santos, em agosto do ano passado, durante a campanha para Presidente da República.
Seu bisneto, João Campos, atualmente deputado federal, é candidato a prefeito de Recife nas eleições de novembro próximo.