Interessante como o tempo muda o destino das pessoas e o resultado de alguns acontecimentos. Há um ano, o então ministro Sérgio Moro era o principal nome do primeiro-escalão de Jair Bolsonaro. Saiu do governo em abril passado após uma série de crises com com o presidente da República. A então líder do Planalto na Câmara era a deputado Joice Hasselman, hoje também é adversária e desafeto do Palácio.
Veja a descrição dessa sessão acontecida no ano passado:
Durou sete horas a audiência do ministro Sérgio Moro na Comissão de Justiça da Câmara dos Deputados para falar da divulgação pelo site The Intercept de diálogos que teria tido com procuradores da Operação Lava-Jato. Só terminou quinze minutos antes do início do jogo em que a Seleção Brasileira venceu a Argentina por dois a zero.
As perguntas dos senhores deputados foram praticamente as mesmas que o senadores fizeram a Moro quando ele esteve no na CCJ do Senado, há duas semanas. E as respostas, igualmente idênticas.
Parlamentares da oposição e governistas protagonizaram debates acalorados. Uns, acusando Moro. Outros, defendendo-o. A deputada Gleisi Hoffmann, presidente do PT, por exemplo, indagou a Sérgio Moro se ele possui contas em bancos do Exterior. Mereceu como resposta o comentário: — Maluquice!
Em todas as suas falas, Sérgio Moro negou não ser indevido o que tenha dito e acusou de ação criminosa a obtenção de tais conversas. Destacou que a oposição fala muito na condenação do ex-presidente Lula mas se esquece das prisões de Eduardo Cunha, Sérgio Cabral e outros alvos da Lava-Jato.
Depois das duas idas de Sérgio Moro ao Senado e à Câmara a possibilidade de abertura de uma CPI para apurar mais profundamente a verdade sobre as conversas, gravações e vazamento por parte do site The Intercept continua possível.
Difícil, porém, prever o desfecho desse assunto após o tumultuado episódio que pôs fim à audiência do agora ministro na CCJ da Câmara, quando o deputado Gláuber Braga acusou Moro de ter sido desonesto na época em que era o juiz que comandava a Operação Lava-Jato.
Terminou em “barraco”, como se diz no linguajar bem das ruas. Enquanto o deputado Gláuber Braga, do PSol do Rio de Janeiro, atacava Moro chamando-o de “juiz ladrão”, ouvia de seu colega deputado pelo PSD do Pará, Delegado Éder Mauro, os gritos de “tú és bandido, tú és viado”.