Paulo Gracindo, o Odorico Paraguaçú

Pelópidas Gracindo, aliás, Paulo Gracindo, tem seu nome no topo da galeria de maiores atores da tevê e artista do rádio do Brasil. Nasceu no Rio e criou-se em Alagoas. De volta à sua terra natal batalhou até conquistar um lugar no mundo das artes. E conseguiu. Foi quando decidiu trocar de nome. Pelópidas virou Paulo, ainda na década de 1930.

Inicialmente foi trabalhar como locutor, depois teve programa que levava seu nome na Rádio Nacional. Consolidou sua popularidade com o lendário programa “Balança, mas não cai”, contracenando com Brandão Filho. Era o primo bem sucedido da dupla de rico e pobre. A grande fama veio com a radionovela “O direito de nascer”, no papel de Alberto Limonta.

Durante sete décadas, Paulo Gracindo construiu uma carreira de verdadeiro sucesso. Trabalhou em 21 telenovelas, representando com brilhantismo personagens memoráveis. Quem não se lembra do o impagável político do interior da Bahia Odorico Paraguaçu, de “O Bem Amado”, e do Padre Hipólito, de “Roque Santeiro”, ambas escritas por Dias Gomes?

Gracindo foi ator em 26 filmes, inclusive no marcante “Terra em Transe”, em 1967, dirigido por Glauber Rocha. Perdeu-se o número de peças de teatro em que atuou. Outro ponto alto de sua carreira foi o show musical “Brasileiro, Profissão Esperança”, previsto para ficar em cartaz no Canecão, no Rio, por 15 dias e permaneceu por quase todo o ano de 1974. Dividia o palco com a cantora Clara Nunes. Seu filho Gracindo Júnior seguiu seus passos de ator, assim como os netos Daniel, Pedro e Daniela.

Em 1991 recebi da Fundação Vitae, de São Paulo, a Bolsa de Fotografia para realizar um trabalho com oitentões famosos do Brasil e que resultou no livro “Senhoras e Senhores”. Evidentemente, Paulo Gracindo não podia ficar fora da minha lista. Fui estar com ele em seu apartamento numa tranquila rua do bairro de Laranjeiras, no Rio. Comigo estava a amiga Luísa Jucá, que algumas vezes me auxiliava na produção da série de fotos.

Fotografei Paulo Gracindo incluindo na cena o mesmo tecido vermelho que usei com todos os personagens. Com ele, foi a toalha de mesa. Com Mário Lago, por exemplo, dei ao tecido a função de tapete. Com Zé Kéti, de lençol de cama. Com a cantora Marlene, o pano vermelho tornou-se um vestido. E com Grande Otelo, um trono. Ao todo, estive com mais de cinquenta desses senhoras e senhores famosos e a todos, depois de fotografá-los, fiz as mesmas quatro perguntas.

Veja o que me respondeu Paulo Gracindo, que faleceu em 1985, aos 84 anos:

O que é o teatro para você?

– Uma doença braba de que fui acometido desde a hora em que nasci. Mas é a única doença que jamais me matará.

Qual foi o melhor momento de sua vida?

– Quando fiz o show “Brasileiro, profissão: Esperança”, no Canecão, em Botafogo. Uma noite, no final da apresentação, entraram no meu camarim o ex-presidente Juscelino Kubitschek e o Pelé. Cantaram comigo e a Clara Nunes, “Chão de Estrelas”. Fiquei tão emocionado que não resisti e fui às lágrimas.

O que representa a fama?

– É muito mais que a demonstração de respeito que as pessoas têm por você. É, mais que isto, carinho. E nada no mundo é mais agradável que carinho. Às vezes, tem-se a impressão de que você é um bem público.

Como se sente ao completar 80 anos?

– Ficar mais velho é como mudar de casa. No começo você estranha o quarto, a sala, tudo. Depois, o tempo vai passando e você acaba se acostumado. Chega um momento em que você sabe de cor tudo entre a varanda e o quintal.

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