Estava revendo dias atrás os arquivos das fotos que fiz na Copa do Mundo de 2014 e me deparei com essa imagem aí. O sujeito de paletó e gravata, sozinho no centro do gramado do belo Estádio Mané Garrincha, como se o dono do jogo e do campo fosse unicamente ele. Boa representação do que se chama de “cartola”. Apesar de tê-la feito há três anos, a foto é bastante atual.
Retrata bem a situação do que aconteceu nessa semana, com a lamentável decisão dos cartolas dirigentes da CBF proibirem os clubes de jogarem partidas dos campeonatos regionais fora de seus estados. Esse é um tema, na verdade, complexo, complicado de entender e sobretudo repleto de interesses os mais variados.
Envolve interesses nas transmissões dos jogos pela tevê, dos governos que construíram estádios com a promessa de sediarem partidas importantes, de patrocinadores que pretendem divulgação de seus produtos em determinados mercados, das torcidas organizadas etc. Todos esses assuntos, porém, têm por trás a sempre nebulosa figura do cartola, ou seja, dos dirigentes de clubes e federações.
E por qual razão no Brasil os dirigentes esportivos são chamados de cartola? É nome inspirado na burguesia europeia. Aqueles senhores que usavam chapéus de cano alto e aba curta representavam a figura de quem detinha domínio e poder sobre algum segmento da sociedade. Ou seja, influíam, decidiam, mandavam. Esse conceito veio cair como luva em nosso país, traduzido como nome que cabe perfeitamente dentro de sua atividade.
Impressionante como o futebol que envolve tanta paixão, — que arrebata milhões de pessoas pela emoção e beleza dos lances, pela qualidade dos atletas, pelas cores dos times, pela qualidade dos estádios e pela alegria do gol — seja tão envolto por jogadas alheias a ele. E repleto de cartolas, invariavelmente enrolados com a Justiça, alvo de processos por formação de quadrilha, por irregularidades na compra e venda de jogadores e fraudes as mais diversas.