No período de Itamar Franco na Presidência da Republica, a moeda oficial e corrente do Brasil era o Cruzeiro. A antiga moeda estava de volta no lugar do Cruzado, criado pelo presidente Sarney como parte dos dois planos econômicos que tentavam conter a alta inflação. Fernando Collor assumiu em 1990 e trouxe de volta o Cruzeiro.
Itamar Franco assumiu o Planalto substituindo a Fernando Collor, que sofreu impeachment em 1992. Itamar manteve o Cruzeiro. Porém, seu ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, lançou o Plano Real. Novamente a moeda brasileira trocava de nome.
Mas aqui me refiro aos tempos de Itamar Franco. Com o Cruzeiro, a população fazia todas as operações comerciais de compra e venda, fossem nos bancos ou supermercados, shoppings ou botequins e nos postos de combustíveis. Para incentivar o consumo do álcool como combustível para automóveis, o governo fixava seu preço em CR$ 27,50 cada litro, enquanto a gasolina custava CR$ 51,00, como se vê na foto dessas duas bombas de abastecimento bem perto da Esplanada dos Ministérios. CR$ representava o Cruzeiro.
Hoje, vinte e seis anos depois, o Real é moeda mais estável que o Cruzado e o Cruzeiro. Agora o país é o segundo maior produtor de etanol do mundo, praticamente auto-suficiente em gasolina. E ainda comemora a descoberta das jazidas da camada do pré-sal na costa do Atlântico e alta produção nos campos da Amazônia.
Quem podia, porém, prever que um dia o Brasil viria sofrer com desabastecimento de combustíveis? E justamente por conta daqueles que utilizam o petróleo para ir e vir: os caminhões que transportam gasolina, óleo diesel, gás e álcool automotor, o etanol. E, claro, toda a produção agrícola, industrial e comercial do País. O PIB. O produto interno do Brasil é transportado por automóveis, em rodovias, e não sobre trilhos, em trens.
A greve dos caminhoneiros por menores preços do óleo diesel, que agora abala o Brasil, é grave. Tão grave que após dias de tensão o governo federal decretou que forças e tropas federais cumpram a missão de impedir o bloqueio das estradas. Sem combustíveis nos postos de abastecimento, o Brasil corre o risco de parar.
Mesmo com o fluxo dos caminhões começando a voltar ao normal, a população ainda enfrenta dificuldades para encontrar combustíveis nos postos. Está afetada a necessidade de ir e vir. Estão prejudicados os transportes públicos, com reflexo direto em vários setores da sociedade. Nas escolas, nos supermercados, aeroportos, nos hospitais, em tudo.
Quando os estoques de combustíveis voltarem ao normal, o consumidor que parar numa bomba de qualquer distribuidora, inclusive da Petrobrás, irá desembolsar valores em torno de quatro reais e sessenta centavos, tanto para a gasolina quanto para o álcool-etanol. Não há praticamente diferença entres os valores dos dois produtos. Em 1993, nos tempos de Itamar Franco, era de 82 por cento.
Como foi – Fotografar mostruário de lojas, anúncio de liquidações, tabela de preços é costume que adquiri assim que comecei a trabalhar como foto-jornalista. Foi lição que aprendi desde que cheguei à profissão. As placas de anúncio fornecem referências para comparação de épocas. Essa foto aí é um bom exemplo. No momento em que a fiz, não passava de um mero cotejo de preços entre o álcool e a gasolina. Para mim era uma simples anotação visual. Com o passar do tempo, porém, a imagem tão ingênua revela o quando o mundo mudou e quanta informação ela contém. A começar pelo cenário.
Não é mais possível enxergar a Catedral de Brasília a partir desse ponto. Hoje esse posto de gasolina nem existe mais. Agora, no espaço ao fundo está o Museu da República, a obra de Oscar Niemeyer, que impossibilita a mesma visão da bela Catedral Metropolitana.
O design dos automóveis ficou mais arrojado, novos modelos, variadas marcas e tecnologias. As bombas de abastecimento também ganharam formato moderno, novo material, assim como a logomarca da Petrobrás. Os estacionamentos já não dispõem de tantas vagas. Anteriormente se lia Cr$. No presente se lê R$. Os talonários recheados de papel carbono para as notas fiscais manuscritas de antigamente praticamente inexistem. Já são impressas eletronicamente ou nem isso, vão direto para sua conta de maneira virtual, pelo novo processo digital, com o Wi-Fi da Internet.
Sem falar no modelo dos automóveis. As marcas podem ser as mesmas, mas os modelos são inteiramente outros. Repare bem na foto. A produção brasileira de carros era parca. Os destaques eram Fusca, Brasília e Kombi. Havia os Chevetes e os Opalas, da Chevrolet. O Corcel, da Ford. O carrão vermelho parado na bomba de abastecimento é um Alfa Romeo, italiano, importado.
Daqui a poucos anos esta mesma imagem aparentemente insignificante voltará a ser referência. Vai mostrar os passados tempos em que o abastecimento dos tanques era feito por frentistas, ao contrário do auto-atendimento, tal e qual já existe nos países mais desenvolvidos, aonde a mão-de-obra é mais cara.
Chegarão mesmo os tempos em que os automóveis não usarão mais gasolina e álcool. Serão mesmo para valer as alternativas de energia?
Orlando Brito