Em um dos versículos que relata a caminhada de Jesus pela Terra, o evangelista Marcos narra um raro momento de revolta do Senhor. Ao chegar a um templo de Jerusalém, Cristo repreendeu alguns mercadores que faziam algazarra no afã de comercializar seus produtos aproveitando a grande freqüência de pessoas.
É demonstração de que o Filho de Deus tinha preocupação com o bom comportamento, mas é também uma referência de o quanto é antiga a existência das feiras na sociedade.
Acredita-se que a origem das feiras data de muito antes dessa passagem bíblica, desde quando o trabalho das famílias era voltado basicamente para o plantio de alimentos para o próprio consumo e essas passaram a produzir em excesso. Para suprir a falta de artigos que não cultivavam, reuniam-se para fazer o intercâmbio de mercadorias, o escambo. Daí para entrar em cena a moeda não custou. Com ela, a atividade passou a ser operação triangular, o comércio.
Os tempos evoluíram até chegar aos nossos dias, com a profusão de supermercados, shoppings, bienais, grandes negócios, financiamentos, cartões eletrônicos, crédito automático, pagamento virtual, cartão pix. Mas a tradição das feiras livres permanece em todo o mundo, como maneira de facilitar o abastecimento de maneira simples, sem sofisticação, mas com toda eficiência.
Esse personagem aí da primeira foto chamou-me a atenção por várias razões. Inicialmente, por ser um homem tipicamente do interior, sem nenhuma vestir nenhuma peça de moda da modernidade. A segunda, por exprimir a essência do comércio simples. Ao invés das gôndolas dos estabelecimentos contemporâneos para expor marcas dentro de uma política de marketing, ele mesmo é seu ponto de venda. Como se vê, fez do corpo sua vitrine. Nos ombros, a réstia de alho. Na mão direita, a galinha caipira.
Na esquerda, uma abóbora e um mamão. Tudo produzido no quintal de sua casa. No lugar dos back-lights, spots e flashes que os magazines envidraçados utilizam para atrair os consumidores, está uma parede lisa e de cor vibrante que destaca sua figura de vendedor comum. Em terceiro lugar, a falta de referência temporal. Nenhum dos elementos constantes do quadro denuncia nacionalidade do feirante. Nem em que época se situa. 1890, 1916, há cinco décadas ou ontem.
É uma imagem que poderia ter sido feita no interior de Cuba, Equador, na África ou qualquer país do chamado Terceiro Mundo. Mas não. A fiz em 1998 na pequenina Pirenópolis, em Goiás. Perto de Brasília, cidade que espelha a modernidade do terceiro milênio.
Orlando Brito
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