Como reza o antigo ditado, resultado de mineração e eleição só depois da apuração. Ainda mais com as contumazes desconfianças em relação à fidelidade e traição na hora do voto.
No próximo dia primeiro de fevereiro os deputados irão escolher o novo presidente da Câmara Federal, aquele que herdará a cadeira de Rodrigo Maia. Como sempre, a disputa é renhida e repleta de lances que somente a política comporta. São até agora cinco ou seis candidatos, considerando os chamados independentes. Porém, tidos como favoritos são Baleia Rossi, de São Paulo, e Athur Lira, de Alagoas, o preferido do Palácio do Planalto.
Não é de todo aconselhável desconsiderar vitória de candidatos ditos independentes, embora seja pouco provável. Bom também relembrar o ano de 2005, quando o singelo e folclórico Severino Cavalcanti, de Pernambuco, discreto integrande do chamado “baixo clero do Congresso” enfrentou os favoritos de então e saiu vencedor. Perambulou por toda a Câmara, gabinete por gabinete levando a promessa de melhorar a condição financeira dos colegas caso fosse eleito.
Tal como hoje, o Palácio Planalto tinha — em 2005, no governo Lula — candidato predileto. E esse preferido era Luis Eduardo Greenhaugh, do PT de São Paulo. Descontente com a indicação palaciana, o deputado Virgílio Guimarães, também petista, de Minas Gerais, decidiu concorrer à presidência da Câmara, sem a chancela de seu partido. Severino Cavalcanti tinha bom trânsito com os colegas e resolveu também lançar-se candidato. Ia enfrentar o consolidado baiano José Carlos Aleluia e outro parlamentar até então pouco levado em conta chamado Jair Messias Bolsonaro.
Para encurtar a história, quando abriram-se as urnas, viu-se a surpreendente vitória de Severino Cavalvanti, com 300 dos 498 parlamentares eleitores, no segundo turno. Na votação prelimiar, Greenhalgh, o predileto do governo Lula, obteve105; Virgílio, 117; Aleluia 53 e Bolsonaro, 2.
A permanência de Severino Cavalcanti, porém, durou ao invés de dois anos, somente 7 meses. Surgiram denúncias de nepotismo e de que ele recebia propina de dez mil reais por mês para permitir que o restaurante de um amigo funcionasse na Câmara. Diante de fortes evidências e provas, dois procuradores do Ministério Público do Distrito Federal entraram com processo pedindo seu afastamento. O desfecho foi rápido. Assim como chegou, saiu. Severino renunciou à presidência da Casa. Em seu lugar, assumiu o primeiro vice, José Thomaz Nonô, de Alagoas. Aliás, naquele ano no Senado quem venceu foi Renan Calheiros, também alagoano.
O conservador Severino Cavalcanti tinha 74 anos quando isto aconteceu. Passara já por filiação em 8 partidos. Era seu terceiro mandato federal e já havia sido prefeito de sua cidade natal, a pequena João Alfredo, em Pernambuco. Faleceu em julho de 2020, aos 89. Até hoje o exemplo de sua vitória permanece na memória e história das eleições para presidente da Câmara dos Deputados.
Orlando Brito