Diário da República – O céu no chão

Foto Orlando Brito

Muita gente acha que a cobertura do poder somente oferece fotografias sobre um tema complexo, enfadonho e árido, com personagens muitas vezes circunspectos. É, pode ser. Porém, queiram ou não, são imagens que vão testemunhar o correr da história e aproximar dos acontecimentos o leitor distante.

Entretanto, o olhar de um fotógrafo deve ser mais amplo que simplesmente se ater ao fato que está registrando. Essa foto é exemplo disto. O serviço de cerimonial do Planalto montou esquema festivo para que o presidente Michel Temer recebesse vários chefes-de-Estado que vieram a Brasília participar do Fórum Mundial da Água, na semana passada.

A ideia desse protocolo é que, nessas ocasiões, os visitantes tenham ao mesmo tempo a dupla sensação de eras ao pisar a moderna rampa do palácio da República. No mesmo tempo em que desfila pela arquitetura futurista da cidade que espelha do terceiro milênio observa os soldados dos Dragões da Independência, da remota época do Império.

Enquanto os jornalistas esperávamos a chegada do presidente Temer para receber do alto da rampa o príncipe herdeiro do Japão, Naruhito, reparei na leveza da cena que um dia o arquiteto Oscar Niemeyer com certeza preconizou: ver refletidas no chão de mármore de sua obra as nuvens brancas do céu azul do Centro-Oeste.

A cena do céu no chão. O contraste ampliou sua dimensão, foi encher de beleza o interior do Palácio Planalto. Puro refinamento desse realmente genial Oscar Niemeyer, autor do projeto arquitetônico de Brasília, idealizada por Juscelino Kubitschek. Com o urbanista Lúcio Costa deram ao mundo um presente de extremo bom gosto.

 

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