A pandemia da Covid-19 alterou a data das próximas eleições municipais no Brasil. A começar pela data, enfim marcada para 15 de novembro. O Tribunal Superior Eleitoral registrou número recorde de candidatos que concorrem aos cargos de prefeito e vereador: 545.437, distribuídos nos 5.570 municípios dos 26 estados. O Distrito Federal não participa dessa eleição. Nesse domingo houve a largada para a campanha eleitoral.
Os rigores das quarentenas e do isolamento social mudaram a maneira tradicional de se fazer campanha. O chamado “corpo-a-corpo”, os comícios, passeatas com apertos de mão entre concorrentes e eleitores agora tem novo formato. A Internet transformou-se na grande peça de comunicação entre ambos. O site do próprio TSE teve de adequar-se aos novos tempos. Para facilitar o processo, há lá orientação bem didática à disposição dos interessados. A começar pelos cuidados na hora de apertar o botão da urna eletrônica. Máscara, álcool em gel, distanciamento etc. Também sobre os debates, propaganda nas redes sociais, revistas, jornais, tevê e até os programas oficiais delegados aos partidos e candidatos. E ainda, limite de gastos, estratégias de ação e demais regras.
As disputas começam acirradas tanto para o governo e câmaras de vereadores das capitais quanto para as cidades de grande, médio e pequeno porte. Há nomes já conhecidos dos eleitores e novatos. Candidatos de perfil sóbrio. E, obviamente, outros nem tanto.
Pela primeira vez na história do Brasil, o número de mulheres é maior que o de homens a concorrrem a um cargo público pelo voto. E a quantidade de negros também é recorde.
É tradição em todas as eleições aparecer candidatos com nomes exóticos. E o eleitor parece gostar disso. Tanto que é famosa a vitória do Macaco Tião, um chimpanzé que habitava o zoológico do Rio e fazia a alegria da criançada no idos de 1960. Há ainda, entre tantas histórias, a do rinoceronte Cacareco, também eleito vereador em 1959, em São Paulo.
Sempre, sempre, existiu um sem número de concorrentes a cargos eletivos com nomes digamos não convencionais. Na verdade, alguns candidatos trocam o nome pelo apelido na esperança de que o interesse do eleitor por isto seja capaz de dar-lhe a vitória. Ou seja, registram-se no tribunal eleitoral com a certeza de que a sonoridade e o bom humor transformam-se em marketing natural para suas campanhas.
Na eleição passada, em 2018, tivemos vários exemplos. Como o de Neymar Pesadão, que decidiu associar seu nome ao do craque da Seleção. Esperava, dessa maneira, ser eleito pela população de Niterói, no Rio de Janeiro, a deputado federal. Não foi.
Já Valéria Maria Santana, candidata a deputada distrital em Brasília, registrou-se com a alcunha como é conhecida: Mc Bandida. Sua plataforma de campanha baseava-se em aumentar a autoestima das mulheres de baixa renda. Prometia, caso fosse eleita para uma cadeira na Câmara Legislativa do DF, distribuir gratuitamente próteses de bumbum às eleitoras. Não foi eleita e não se sabe se cumpriria a promessa.
Nessas eleições municipais, a coisa não será diferente. Ao contrário, aumentou ainda mais o número de candidatos com “nomes” digamos criativos, que aliam suas alcunhas originais a possíveis palavras ou causas que ajudem elegê-los. Por exemplo: Alexandre Pires Pica Pau, Donizete Gato Preto, Valéria Minha Prima, Capeta, Zé Perninha, Ferreira do Suvacão, Ângela do Zé Rolinha, Pool, Tôto da Center Musiky, Chupeta, Dudu Cremoso, Dr. Sobrancelha, Palmeirense, Trufa do Cachorro Quente, Bobó Baiano da Oficina, Ney da Dupla Rud e Ney, Pipi de Jorge, Xuxa da Capela, Adriano Pirulito, Madurão, Sandro Mil Grau, Santo BBB, Kbça, Chega Mais, Careca Sheik, Sal do V, Alessandro Fuscão e Clebe Pode Crê.
A lista não para por aí. Em todos os estados e em todos os partidos, é vasta: Tchaka Tchaka, Mãe Gorda do Povo, Professor Goiaba, Gordinho da Usina, Tadeu Tô Contigo, Pé de Pato do Lixo, Sallim Solução Amor no Coração, Motorista Misericórdia, Advogado de Deus, Dilma do Povão, Enia da Toca da Onça, Agenor Passa Régua, Quinzinho da Água e Ricardo Fucinho, Quizinho da Água Parada e Diazepam.
Na cidade de Parnaíba, no Piauí, Mão Santa — que já foi senador e governador de seu estado — agora se lança candidato a prefeito. Mas conta com oposição ativa de um antigo adversário, o Tererê. Já Boca Aberta, que é atualmente deputado federal pelo Paraná, não precisará correr atrás de votos nessa eleição, já que seu mandato parlamentar em Brasília se estende até 2022. É o mesmo caso de Hélio Lopes, do Rio, que elegeu-se em 2018 como Hélio Bolsonaro.
Agora em 2020, a advogada carioca Regina Célia Sequeira teve ideia idêntica à do conterrâneo Hélio Lopes. Sua canditatura à Câmara de Vereadores do Rio até agora está indo bem. Em substituição ao seu próprio nome, adotou o de Capitã Cloroquina. Acredita que aliar sua imagem à defesa que o atual presidente da República faz do medicamento para cura da Covid-19 lhe dará votos. É só esperar para ver nos santinhos de campanha a foto dela ao lado de Jair Bolsonaro. Para reforçar a imagem de aliada ao senhor que preside o Brasil, aparecerá com farda militar e chicote na mão.
Só resta desejar e esperar que os 148 milhões de brasileiros que irão às urnas esse ano escolham bem seus candidatos.