Faço cobertura da Presidência da República há mais de cinco décadas. Posso garantir que já vi de tudo, ou quase tudo, ali. Por exemplo, um presidente que conseguia ludibriar sua própria segurança e fugir de seu gabinete para outro extremo do Planalto para saborear pão-de-queijo com uma assessora que nunca deixava de levar para o trabalho a iguaria de Minas. E de outro que, apaixonado pelo cargo, mandou colocar em uma das salas contíguas à sua uma cama de dormir, com frigobar na cabeceira.
E ainda um presidente que amava sair de porta-em-porta do quarto andar para falar com seus ex-colegas de quartel. Sem falar daquele que algumas vezes deixava sua sala, se dirigia ao Salão Leste só para ver a beleza do céu de Brasília nos fins de tarde. E também outro que muitas vezes descia ao Comitê de Imprensa, no térreo do Palácio, para conversar com os repórteres na maior espontaneidade.
Nessa terça-feira o presidente Jair Bolsonaro protagonizou uma cena jamais esperada. Foi à rampa do Planalto para, lá do alto, dar uma entrevista. Queria falar sobre a tal gravação de uma reunião ministerial em que ele trata de seu desejo de mudar o comando da Polícia Federal quando Sérgio Moro estava ainda à frente da pasta da Justiça. Algo realmente surpreso.
Lá de cima, cercado por seguranças, Bolsonaro fez sua defesa aos jornalistas, lá em embaixo. Comunicação difícil, mal resolvida pelo improviso e bem fora de um padrão adequado para um presidente da República. Repete sua maneira ruim de comunicar-se com a sociedade através da mídia. Mas como se diz, cada um a seu modo.
Orlando Brito