Enterro de criança recém-nascida. Cidade de Aprazível. Ceará, 1996.
Para mim, fotógrafo, “Diante da Dor dos Outros” é um livro essencial. A escritora Susan Sontag, falecida em 2004, aborda com maestria um tema pouco comum: o que sente um fotógrafo ao retratar o sofrimento de um personagem vitimado por uma tragédia, um acidente, a morte de um ente querido.
Tem razão a ensaísta americana. Quantas vezes eu próprio tive de demonstrar frieza para, cara a cara com a desgraça, ficar indiferente a ela. Indiferença não, aparente distância.
Essa foto aí, que fiz durante uma viagem pelo interior do Nordeste, é uma amostra dessa situação. O pai, seguido pela mulher e dois filhos, leva nos braços caixão do caçula morto para o cemitério.
Triste, muito triste.
Mas, em minha profissão, com a câmara pendurada no pescoço, não há como deixar de registrar a dura realidade, por mais chocante e desagradável que seja.