1993. Portugal estava a mil. Lisboa parecia um canteiro de obras. O país acabava de entrar para a Comunidade Europeia. Por conta disto a Veja, revista em que Luís Costa Pinto e eu trabalhávamos naquela época, nos enviou para realizar reportagens sobre diversos assuntos. Um deles, com José Saramago. O famoso autor de vários best-sellers resolvera mudar-se para Lanzarote, uma das ilhas Canárias, depois que seu livro “O Evangelho Segundo Jesus Cristo” foi censurado.
Ao lado da mulher espanhola Maria Del Pilar, José Saramago dizia ter encontrado em Lanzarote o lugar ideal para meditar e escrever. Raramente tirava o pé de lá. Às vezes voltava a Lisboa para rever amigos, atualizar e conferir a correspondência. Afinal, um ganhador do Prêmio Nobel de Literatura recebe mensagens de admiradores e amigos de todo o mundo.
O carteiro já sabia que dificilmente encontraria em casa o famoso destinatário e por isso confiava as cartas ao dono da singela Quitanda do Mascote, vizinha do modesto apartamento de Saramago, na Rua dos Ferreiros, número 36, no Bairro da Estrela, um dos mais tradicionais da agradável da capital portuguesa.
Saramago faleceu em 2010, aos 78 anos.
Orlando Brito