O quadro “Lição de Anatomia”, um óleo sobre tela de autoria do pintor holandês Rembrandt Harmenszoon van Rijn, foi concebido em 1632. Considerado um clássico da pintura barroca, tornou-se não somente um exemplo de concepção artística, pelo domínio que o artista imprimiu no adequado comportamento dos personagens que dele tomam parte e do equilíbrio da iluminação, mas também um padrão para observação de um problema. No caso, a morte.
O Doutor Nicolas Tulp, médico máster da academia de cirurgiões de Amsterdã, dá a sete de seus alunos uma aula sobre a anatomia do corpo humano, estuda as vísceras dos restos mortais de um delinquente condenado à forca. “Lição de Anatomia”, portanto, retrata a análise mesmo de um problema.
Dois casais de amigos que moram longe de Brasília, vieram nesse fim de semana visitar a capital do País. Para retribuir a boa acolhida que me dão quando os visito, resolvi repetir a gentileza. Os levei para visitar o Congresso, lugar que frequento diariamente por força do meu trabalho de jornalista. Aliás, julho, por ser mês de férias escolares, muitas famílias trazem seu filhos para mostrar-lhes a cidade que sedia o poder.
Tomamos um tour que o serviço de cerimonial do Senado Federal e da Câmara dos Deputados dispõe para receber os turistas. Seguindo os guias que orientam o passeio, fomos aos salões Negro e Azul das duas Casas do Legislativo. Aos plenários, aos museus. Mas o ponto alto foi, sem dúvida, foi a aula do cicerone, diante da maquete do Congresso plantada no Salão Verde.
E por quê? Porque um dos visitantes – aluno do curso de arte de uma universidade de São Paulo – chamou-me a atenção para a coincidência visual com o belo quadro do grande Rembrandt: a líder do grupo falando aos sete presentes sobre o funcionamento da Câmara. Realmente uma coincidência visual, uma despretensiosa referência à “Aula de Anatomia do Dr. Tulp”.
E atual, quase quatro séculos depois. Ao invés dos concentrados doutores médicos, atentos senhores e senhoras eleitores a mirar de perto o cenário da Câmara, composta por parlamentares que escolhem nas urnas e envolta em questões de certa forma complicadas. Mas democráticas. Não perdi a chance retratar a observação do jovem estudante de artes.