Mesmo destacando praticamente todo meu tempo e atenção para documentar a crise que assola o Brasil nesse momento, consegui espaço para apreciar o livro “Pedro Luiz Ferreira, Fotógrafo Intrépido”. Gratíssima surpresa. O colega jornalista do Nordeste bota seu olhar nos acontecimento fora do eixo Rio-São Paulo-Brasília.
Pedro Luiz mostra de maneira emocionante fotografias que fez ao longo de sua brilhante carreira repleta de aventuras. Estão lá tragédias, alegrias e tristezas, festas populares, acidentes, os lances do esporte, personagens que foram notícia e, enfim, o dia-a-dia em Pernambuco, onde nasceu e vive até hoje. Agora oitentão, reúne na publicação a realidade que presenciou. Em quarentena, recluso em casa para fugir do contágio da Covid-19.
O livro “Fotógrafo Intrépido” segue roteiro interessante, sem permitir monotomia ao leitor. A cada duas páginas, uma história descrita por jornalistas pernambucanos de renome. Ao lado do texto, a foto referente ao tema. Por exemplo, o desenrolar de um assalto ao Banco Econômico, em Recife, em 1987, que culminou com o colega repórter Francisco José, da TV Globo, refém dos bandidos mascarados.
Realmente tocantes as fotos de Pedro Luiz. A começar pela imagem da senhora cega que, para seguir seu caminho, é auxiliada por um amigo aleijado, sem uma das pernas. A unir um e outro personagens, uma corda de algodão. São o retrato da dura realidade não somente da pobreza, mas sobretudo da solidariedade. Aliás, como o texto do radialista Ednaldo Santos destaca, “no sertão, o único luxo é a solidariedade”.
Nomes históricos não ficaram sem o olhar de Pedro Luiz Ferreira. O livro republica a imagem do momento em que o então governador de Pernambuco, Miguel Arrais — cassado pela revolução de 1964 — deixa o Palácio das Princesas para seguir, preso, para o confinamento político na Ilha de Fernando de Noronha. Também está no livro, a campanha pela instalação da Assembléia Nacional Constituinte, em 1987. E ainda o cardeal Dom Hélder Câmara e o grande ídolo da música do sertão, Luiz Gonzaga “O Rei do Baião”.
Várias fotos de Pedro Luiz ilustraram as páginas de publicações importantes do Brasil. Do Jornal do Commércio e Diário de Pernambuco. Das revistas O Cruzeiro, Manchete e Realidade. E dO Globo, onde ambos trabalhamos durante anos.
Emociona a fotografia dos dois meninos que, no sertão, vão à escola dentro dos cestos de vime amarrados ao único transporte disponível: o jumento.
O livro do sempre bem-humorado e pai de 12 filhos Pedro Luiz tem olhar amplo e humanista que todo fotógrafo deve ter. Viaja pela questão sempre presente, a terra dos índios. Sai do interior e vai ao meio do mar, numa reportagem sobre a caça de baleias. Vê também, o crime e a pistolagem. O sofrimento dos sertanejos com a seca do semi-árido nordestino.
Também tive a grata satisfação de dividir com Pedro Luiz algumas, várias, coberturas. Na época do regime militar, as viagens do general Ernesto Geisel, então presidente da República, a Pernambuco. Entre outras, em 1991, a chegada do Papa João Paulo II, o cardel Karol Wojtyla, no Aeroporto de Guararapes, em Natal, no Rio Grande do Norte.