Como bem disse Gabriel García Márquez, todo ser humano tem três vidas: a pública, a privada e a secreta.
Tem razão o magistral escritor colombiano, merecedor do Prêmio Nobel de Literatura, falecido em 2014, aos 87 anos. Sua obra é vasta e invejável. Em seus contos e romances, Gabriel descreve com perfeição a complexa personalidade de cada um dos personagens. São figuras humanas que ganham perfis carregados de curiosidade, perspicácia, leveza, beleza e surpresas. Todos eles têm nova vida com suas palavras. Nova vida porque vão incorporar-se ao mundo do chamado do realismo mágico em dezenas de livros traduzidos para 40 idiomas.
Ao vivermos agora os tempos que precedem a eleição presidencial no Brasil temos, muitas vezes, a impressão de estarmos no meio de uma das fantásticas histórias do formidável universo de Gabriel García Márquez. É natural que numa campanha eleitoral, principalmente para a presidência da República, seja no Brasil ou em qualquer país, os candidatos deem toda atenção às suas “três vidas”, a pública, a privada e a secreta.
A vida pública é massivamente exposta na mídia, ainda mais nos tempos de agora, de transparência das ações, com as redes sociais a publicar e mostrar os mais variados aspectos de qualquer pessoa. Sobretudo as mazelas. Mais ainda quando esta se candidata a uma função importante. Desfiam-se sua trajetória, seu cotidiano, sua performance nos cargos que tenha ocupado, sua relação com a sociedade, sua história e, enfim, tudo que julgam credencial para disputar posição importante na República. É imperioso hoje o público saber da vida pública dos outros.
A vida privada não chega a ser tão privada na Era da Internet. E, claro, não somente por conta das redes sociais. Mas pelas novas exigências da própria sociedade, dos eleitores sempre ávidos por tomar conhecimento da atuação de cada um desses senhores e senhoras que sonham com presidir o País, por exemplo. Inevitável virem à tona temas e lances de sua intimidade. A avidez do público por essa faceta é imensurável. Na verdade, o principal eleitor talvez seja o conhecimento dessa tal vida privada.
A vida secreta. Bem, a vida secreta, como o próprio nome já diz, é secreta. Secreta, porém não inviolável. Talvez seja esta a mais inflamável, a que mais tem capacidade destruidora e de demolir reputações. Por isto mesmo, todos têm a maior preocupação em protegê-la. Nem todos conseguem. E é justamente o caráter secreto de sua vida que traz o temor que detalhes dela venham a público e acabe com a privacidade.
Exemplos há. Às vezes somos surpreendidos por desistências inesperadas de candidaturas aparentemente firmes e robustas. Ficamos sem saber exatamente a razão ou motivos que levam à repentina mudança de rota. Suponho dever ao medo de que sua vida secreta torne-se pública, deixe de ser privada.
Ou seja, quando a vida secreta está prestes a ser tornar pública, ameaçada por um escândalo, amedronta. A ponto de levar um candidato à desistência de seu propósito de eleger-se presidente tão repentinamente.
Portanto, muitas vezes, candidatos e candidatas em países tão grandes se transformam nos impagáveis personagens da incrível cidadezinha de Macondo, de Gabriel García Márquez. Aqui, como lá ou em qualquer lugar, todo ser humano preza suas três vidas: a pública, a privada e secreta.