Moacir Barbosa chegou à Seleção Brasileira de 1950 como titular asboluto. Era longe o melhor goleiro do país, estrela do Vasco da Gama na época do famoso time conhecido como Expresso da Vitória. Corajoso, fazia defesas arrojadas, colocação precisa. Inspirava segurança. Várias vezes campeão, agregador, bom atleta. O homem certo para no lugar certo. Mas como é sabido, um gol feito pelo atacante Gigghia, do Uruguai, pôs fim ao sonho da conquista da primeira Copa do Mundo para o Brasil. E também à bela história e ao sossego de Barbosa. Desgostoso, o ex-goleiro continuou morando num subúrbio do Rio.
Morreu em 2000, aos 79 anos, em Santos, na casa de uma filha adotiva.
Em 1991, mesmo passados 41 anos da malfadada derrota para a equipe uruguaia, ele carregava muito sofrimento. Fui fotografá-lo para “Senhoras e Senhores”, livro com notáveis homens e mulheres da história brasileira. Barbosa contou-me que por volta de 1965, um antigo dirigente do Vasco, Agathyrno Silva Gomes, conseguiu-lhe um emprego na Suderj, órgão que administra os estádios do Rio.
Entretanto, por capricho de sua sina, era justamente o Maracanã o lugar que mais lhe trazia tristeza e desgosto. Não reclamava. Afinal, precisava do salário. Ficava no Maracanã no turno da manhã, mas não saía do escritório, jamais entrava no gramado ou passava pelas arquibancadas. Sentia-se amargurado quando olhava as traves em que Gigghia marcou o gol que fez chorar milhões de torcedores. Fui encontrar o ex-goleiro do Vasco e da Seleção em um dos bairros cortados pela Avenida Suburbana, perto de Del Castilho. Era balconista em uma pequena loja de artigos de pesca.
O “bico”, como ele dizia, era para complementar o orçamento. Mas, principalmente, para diminuir a dor do isolamento. Ali as pessoas não tocavam no assunto e o chamavam de seu Moacir e não de Barbosa. Impressionei-me com sua figura serena, mas também com a visível carga de angústia. Adorava falar do Vasco, detestava lembrar a Seleção. Tinha guardada uma camisa do clube de seu coração com autógrafos dos principais ídolos do time de São Januário em várias épocas. Roberto Dinamite, Bellini, Ademir Menezes, Vavá, Pinga, Romário, Coronel, Andrada, Dunga, Bebeto, Brito, Tostão, Alcir, Abel, Moisés, Sabará, Orlando Peçanha, tantos…
Disse-lhe que eu era vascaíno por causa dele. Quando eu tinha sete anos, ouvia no rádio os grandes nomes do futebol. E um desses craques era ele, Barbosa, o grande número um do Vasco. Portanto, ele estava diante de um fã. Estendeu-me as duas mãos com todos os dedos deformados, agradeceu-me a gentileza das palavras. E declarou-se um homem definitivamente amargurado:
– O futebol me propiciou as melhores e as piores emoções de minha vida. Nos meus 26 anos de carreira, fui campeão 14 vezes. Viajei pelo mundo, fiz alguns amigos. Mas ao perdermos para o Uruguai passei a ser o brasileiro mais criticado da história. Nunca consegui me livrar da sensação de fracasso.
Fiz questão de retratar Moacir Barbosa. Queria que ele fosse um dos notáveis brasileiros que ilustraram meu livro “Senhoras e Senhores”, que só foi possível porque recebi a Bolsa de Fundação Vitae, de são Paulo.