É inquietante a questão indígena no Brasil. Em todo momento há grande controvérsia sobre a posse das terras em que habitam. Agora, por exemplo, com a crise instalada no governo por conta das queimadas das florestas na Amazônia, o assunto está novamente em destaque.
O presidente da República, Jair Bolsonaro, sempre declara ser contrário ao número de reservas indígenas já demarcadas. É também favorável à liberação das terras que os índios ocupam para mineração por parte de empresas interessadas explorá-las. Na Câmara Federal, tramita projeto que permite a atuação de agropecuárias em seus territórios.
Vale, por isto, recordar que os sertanistas Orlando e Cláudio Villas-Boas foram dois dos brasileiros que mais lutaram pelo destino dos índios, para que estes tivessem convivência adequada quando em contato com a população branca. Os Villas-Boas eram seguidores fiéis da teoria do marechal Rondon segundo a qual no futuro dos índios viriam sofrer com o avanço do progresso. E em consequência, teriam sua cultura e sobrevivência ameaçadas.
Nos idos dos anos 1940, convidados pelo então presidente Getúlio Vargas, os irmãos Orlando, Cláudio, Álvaro e Leonardo se embrenharam nas matas de Mato Grosso e Goiás, dando início à pioneira Expedição Roncador-Xingu. Depois, estendida aos estados de Rondônia, Roraima, Pará, Acre e Amazonas.
Com Noel Nutels e Darci Ribeiro, os Villas-Boas criaram o Parque Nacional do Xingu, já no curto governo Jânio Quadros. Diversas etnias, entre elas os xavantes, caiabis, kamaiurás, krain-a-kores, yawalapitis, waurás e kaiapós, receberam em suas aldeias os irmãos Orlando, Claudio, Leonardo e Álvaro. Ao longo da heróica caminhada de décadas pela selva, os quatro sofreram terríveis malárias. Faleceram, aliás, em consequência delas.
Várias vezes fotografei a dupla Villas-Boas. Em viagens pelo interior do Brasil e mesmo em Brasília. A última, porém, foi essa foto aí, para o livro “Senhoras e Senhores”, em São Paulo. Orlando (à esquerda), o mais velho, foi indicado duas vezes para receber o Prêmio Nobel da Paz e ganhou cinco títulos de Doutor Honoris Causa de importantes universidades brasileiras, além de condecorações de entidades internacionais. Em meados de 2000, foi demitido da Funai, a Fundação Nacional dos Índios. Dois anos depois, morreu, aos 88 anos.
Orlando Brito