A propósito de o governo pretender taxar livros. Ou louco por leitura

Vendo agora a possibilidade de o governo Bolsonaro — na proposta de reforma tributária enviada ao Congresso — criar taxa para a aquisição de livros, lembrei-me dessa foto. A imagem cabe perfeitamente para contribuir com o tema que resulta em polêmica e discussão: imposto sobre a compra de publicações literárias.

A fiz na véspera de uma Quarta-feira de Cinzas, no setor central de Brasília, há dois ou três anos, quando não se imaginava que o mundo fosse sofrer o drama da pandemia do Coronavírus.

Blocos de carnaval desfilavam arrastando centenas de alegres foliões. Na mesma pista, esse nosso amigo maltrapilho da foto — pelo visto, um pobre andarilho sem destino — estava alheio à festa. Como se nada estivesse acontecendo, preferiu concentrar-se para ler um livro que encontrou revirando uma lata de lixo na frente de um luxuoso hotel da Capital.

Fiquei tão surpreso com a cena que aproximei-me e, depois de fazer a foto, fui matar a curiosidade de ver que livro era. E era “Textos de Machado de Assis”. O senhor maltrapilho estava na página do conto “O Espelho”, que começa com a seguinte frase: O esboço de uma nova teoria da alma humana.

A fotografia cabe também dentro do tema “Enxergando o Pais de perto” ou “Sem palavras”. Aliás, um amigo que é imortal da Academia Brasileira de Letras, ao discorrer sobre a questão, disse-me: — Taxar livros é tolher a liberdade, é brecar a cultura!

OrlandoBrito

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