A Copa do Mundo – assim como os Jogos Olímpicos – é evento que a cada quatro anos concentra praticamente todas as atenções da mídia internacional. Não é para menos, as estrelas e os ídolos do futebol de várias nações entram em campo para mostrar o que há de melhor no esporte que encanta milhões, bilhões, de habitantes do nosso planeta.
Porém, são raras as vezes que o foco da grande competição, como agora na Rússia, divide a atenção com outro assunto que, ao contrário de mostrar a alegria das torcidas nos estádios, apresenta um drama assustador: o tratamento que o presidente americano Donald Trump emprega aos homens, mulheres e crianças que pretendem emigrar para seu país.
Desde que assumiu a presidência dos Estados Unidos, Trump cumpre seu propósito de restringir a todo custo a imigração de ilegais. Já falou várias vezes na construção de um muro que impeça a entrada de clandestinos pela fronteira com o México e montou esquema para barrar também os que chegam de quaisquer países não somente por terra, mas também por navios e aviões.
Nesta semana, a força da imagem parece ter sido mais forte que o projeto de restrição para imigrantes de Donald Trump. Vídeos e fotos levadas à mídia desviaram o olhar da bela Copa na Rússia para a triste e emocionante situação de crianças engaioladas e embrulhadas em papel laminado separadas de seus pais, encarcerados por tentarem morar nos Estados Unidos.
As imagens provocaram uma verdadeira revolta global. Tiveram efeito tão forte que implicaram reações as mais diversas sobre o desejo do presidente americano. A começar pelas declarações do partido de Trump no Congresso e da própria primeira-dama Melania, dos Estados Unidos, aliás nascida na Iugoslávia e de nacionalidade eslovena. E, mais que isso, principalmente a repulsa da opinião pública em todo o mundo.
Consta, aliás, que a lei é de autoria dos presidentes do partido Democrata, o de Donald Trump, e que vem dos governos Clinton e Obama. Mas é algo inconcebível em qualquer circunstância. Ainda mais quando se trata de um país com população de formação étnica variada, negros, latinos, árabes, europeus, orientais. E lunático, no caso de Trump.
Diante da repercussão negativa da imagem que decorre de sua rigorosa política de migração, Donald Trump decidiu relaxar a prisão de pais e mães de crianças presas em lugares que se assemelham aos campos de concentração da era do nazismo, parte da política de segurança zero. Evidentemente, o tema ganhou a capa da revista Time que sairá em 2 de julho. Resulta numa bela peça de comunicação.
Os editores da revista utilizaram a foto de uma menininha hondurenha em prantos, reclamando a presença da mãe detida na cidade fronteiriça de McAllen, no Texas. Na imagem – de autoria de John Moore, fotógrafo merecedor do Prêmio Pulitzer de Jornalismo – a pequena derrama lágrimas enquanto olha para cima. E no lado direito da capa, foi montada a foto de Trump, que com olhar autoritário a observa do alto de seus 1m90cm. Impactante.
A peça gráfica – um mix de duas imagens – é de extrema eficácia editorial. Pela força da imagem conjunta, nem precisou de muitas palavras para atingir a emoção e o interesse dos leitores da Time. Somente 15 letras: Welcome to America. Traduzindo: “Benvindo aos Estados Unidos”. É uma verdadeira aula para os equivocados desenhadores de capa das revistas brasileiras.