A Bolívia e as folhas de coca

Venda de folhas de coca nas ruas da Bolívia. Foto Orlando Brito

Quem viaja à Bolívia encontra nas feiras de rua, nos mercados, nas farmácias e quitandas uma cena muito comum: o comércio de folhas de coca. Faz parte da cultura e da história do país e, sobretudo, garante a sobrevivência de milhares de cultivadores da planta.

Segundo contam, tem objetivo medicinal. Em alguns hotéis, bares e restaurantes o chá de coca é servido naturalmente. É remédio para acalmar o espírito, crêem. Mas, no interior do país, onde os níveis sociais do povo são ainda mais baixos, são usadas para mastigação, como forma de enfrentar os efeitos das grandes altitudes e aplacar a fome.

Estive na Bolívia várias vezes, fazendo matérias para O Globo e para Veja. Em uma delas, durante uma reportagem para a revista sobre os trinta anos da morte de Che Guevara, perguntei a um dos guias que nos acompanhavam à região de Tarija – de onde vinha o costume de mascar folhas de coca. Então, falou-me de uma antiga lenda:

– Em torno do ano de 1500, um velho ermitão perambulava pelo Lago Titicaca, na fronteira da Bolívia com o Peru. Escolhido pelo Deus Sol, era o guardião de um tesouro dos indígenas da região. Um dia, as tropas espanholas invadiram as terras a Leste da Cordilheira dos Andes. O eremita então escondeu as jóias sagradas, evitando que os colonizadores o levassem. Ao ver a resistência do ermitão, o Deus Sol quis recompensá-lo com uma receita que viria amenizar o sofrimento de seu povo escravizado pelos algozes estrangeiros. Apareceu-lhe em sonho e disse: – Cultivem essa planta e tirem dela as folhas. Depois de secas, mastiguem-nas demoradamente. Dela sairá um sumo que, absorvido pelo organismo, lhes dará forças e fé para resistir ao inimigo.

É uma das muitas lendas que existem para explicar esse hábito tão comum no interior da Bolívia.

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