Não é surpresa para ninguém os lances desagradáveis protagonizados pelo presidente americano Donald Trump. Vez por outra é autor de atitudes desagradáveis e pouco exemplares para uma personalidade de tamanha importância. Foi o que aconteceu nessa sexta-feira, na Argentina, para onde viajou para participar da reunião do G-20, fórum que põe na mesma mesa chefes-de-Estado dos países que representam as maiores economias do mundo.
O presidente argentino Mauricio Macri, ao recebê-lo no Salão de Honra da Casa Rosada, fez breve discurso como parte do cerimonial. Trump ouviu suas palavras com atenção, segurando ao ouvido um pequeno aparelho de tradução simultânea da língua espanhola para o inglês. Ao fim, em sua vez de falar, jogou no chão, aliás no tapete vermelho, os fones e disse: — Eu entendi você melhor em seu idioma do que a tradução.
No Brasil, em 1982, outro presidente americano, Ronald Reagan, também protagonizou um ato que no meio diplomático costuma-se chamar de gafe. Aquela vinda de Reagan, desde o seu primeiro dia foi diferente. É verdade que estava dentro da agenda momentos de amenidades, como um passeio a cavalo ao lado do general João Figueiredo na Granja do Torto. A cavalgada foi, porém, considerada de caráter privado e os fotógrafos não tivemos acesso. Porém, ninguém esperava que horas depois – à noite, durante o banquete de honra no Itamarati – Mr. Reagan viesse proporcionar dois momentos inusitados. E desagradáveis.
A primeira surpresa foi citar em seu discurso o slogan da época da linha-dura do regime militar brasileiro, “Pra frente, Brasil”, justo na época em o general Figueiredo pretendia por em curso a redemocratização.
A segunda surpresa viria entrar para história das gafes entre nos encontros presidenciais: na hora do brinde, Ronald Reagan levantou a taça de champanhe “em homenagem ao povo boliviano”.
Ao perceber o equívoco, o presidente americano tentou consertar a situação. Disse que a Bolívia era seu próximo destino. Errou mais uma vez, pois seu roteiro passava longe de La Paz. Era a Colômbia, Costa Rica e Honduras.
Os diplomatas e o pessoal do Palácio Planalto evidentemente não gostaram de ver o Brasil confundido com outro país. Mas, para não aumentar o tamanho do fiasco, menosprezaram o mau momento do presidente americano. O mesmo fez o general Figueiredo, dono de humor ácido, franqueza reconhecida e que jamais escondia seu descontentamento quando algo o irritava.
Nos oito anos em que ocupou a Casa Branca, Ronald Reagan produziu situações igualmente desconcertantes. Ninguém podia esperar que um homem tão experiente e político veterano como Reagan, fosse proporcionar uma situação tão indevida.