Por Maria Luiza Abbott e Marcelo Stoppa
Relevância e visibilidade (R&V) dos candidatos a presidente no Twitter registraram alta volatilidade nas três semanas após o 2º turno das eleições. Na semana que termina nesta sexta, 26, a parcela de R&V de Fernando Haddad chegou a 50,8%, superando a de Jair Bolsonaro, que ficou em 49,2%, segundo indicam os dados da pesquisa da AJA Solutions. Depois de sair na frente no período de 8 a 12 de outubro, a fatia de R&V do candidato do PT caiu na semana seguinte, mas voltou a subir entre 19 e 25 de outubro. Continua acima da fatia de Bolsonaro, embora haja uma indicação de queda nas últimas 24 horas.
Haddad foi beneficiado não só pela melhora da eficiência de sua estratégia de comunicação e sensibilização do usuário-eleitor nas redes, como pelas denúncias de fake news contra ele divulgadas na mídia tradicional e pela intensificação dos ataques a ele pela campanha de Bolsonaro no Twitter.
A estratégia de acentuar os ataques aos adversários com ações coordenadas – que reúnem apoiadores e também perfis automatizados e perfis humanos com contas automatizadas – já tinha sido usada com sucesso pelo candidato do PSL antes do primeiro turno: contra Geraldo Alckmin (PSDB), ainda em agosto, e depois contra Ciro Gomes (PDT), quando pesquisas e análises indicavam que um dos dois seria a ameaça maior para a vitória.
O mapa dos fluxos (abaixo) representa a troca de mensagens entre as comunidades em torno de cada candidato e da candidata a vice na chapa do PT, Manuela D´Ávila, entre 8 e 12 de outubro. A nuvem de Haddad está em verde, a de Manuela em vermelho e a de Bolsonaro em azul. As linhas representam as trocas de mensagens entre as nuvens e as cores, as nuvens de origem.
Nas duas vezes anteriores, os ataques da campanha de Bolsonaro funcionaram e prejudicaram os dois adversários. Desta vez, porém, a estratégia teve efeito contrário e contribuiu para impulsionar o adversário. A análise preliminar dos fluxos de comunicação indica que a campanha do PT reagiu prontamente, o que ajudou a aumentar a relevância de Haddad, mas também há indícios de que os ataques foram rejeitados espontaneamente.
Contribuiu para a rejeição a divulgação pela mídia tradicional de campanha de fake news no WhatsApp para atacar o candidato do PT. A mídia tradicional é usada como referência de credibilidade nas mídias sociais e as matérias sobre essa campanha foram amplificadas nas redes. Outro fator foram as publicações das pesquisas eleitorais que indicam queda da diferença entre os dois candidatos e renovaram o esforço de apoiadores do candidato do PT, segundo aponta a análise qualitativa dos diálogos no Twitter.
Pela primeira vez desde que a AJA iniciou as pesquisas, no fim de março, o algoritmo proprietário identificou diálogo entre eleitores-usuários do Twitter da órbita de um candidato que falam um com outro sem referência a ele. Isso é um indício que pode ter havido transferência de interesse de eleitores. No mapa abaixo, este tipo de diálogo pode ser visto, representado pela nuvem azul mais próxima ao candidato Haddad, contribuindo para o seu aumento de R&V.
No gráfico abaixo, é possível identificar uma comunidade mais sólida em torno de Haddad, na nuvem de cor lilás, e outra mais difusa em torno de Bolsonaro, de cor verde. A aparente dispersão na nuvem em torno do candidato do PSL indica que os usuários nessa área estão mais dedicados ao impulsionamento das hashtags relacionadas a ele (em azul) do que efetivamente dialogar com os influenciadores e usuários em torno dele.
É importante notar ainda que a eficiência da comunicação da campanha de Bolsonaro foi de 7,44 e a de Haddad 14,51 na semana. A eficiência mede a capacidade de o candidato sensibilizar os usuários da rede que acompanham a eleição, calculando quanto da mensagem de cada candidato foi captada pelos usuários. Os números indicam que o candidato do PSL precisou do dobro de publicações para ter o mesmo grau de sensibilização do candidato petista. Na prática, isso significa que o candidato do PT conseguiu gerar relevância e visibilidade superior ao do adversário, mesmo tendo um número de seguidores muito menor. Bolsonaro tem 1,93 milhão de seguidores no Twitter, 1 milhão a mais que Haddad.
As baixas taxas de eficiência da mensagem de Bolsonaro têm se repetido com frequência nas 33 semanas de análise das redes feitas pela AJA. Nesse período, buscou-se motivos para esse desempenho e a hipótese mais provável é que o uso intensivo de robôs na campanha limite a eficiência na rede.
Robôs foram usados de forma generalizada pelos candidatos, especialmente, para impulsionar hashtags na campanha nas redes antes do primeiro turno. Na segunda fase da campanha, os bots continuam orbitando a nuvem dos dois candidatos (como mostra o mapa cinza com pontos vermelhos, que são perfis automatizados ou com alta probabilidade de automação).
A maior concentração está em torno do candidato do PSL (mostrada na nuvem superior), confirmando indícios detectados pela Folha de São Paulo esta semana e anteriormente por investigação da Veja.
Além da indicação de probabilidade feita pelo algoritmo, a pesquisa da AJA desde o fim de março revelou:
Um ritmo acelerado de crescimento de seguidores de Bolsonaro fora da linha de tendência a partir do mês de julho, como mostra a evolução do número de seguidores por mês abaixo:
2) Dentre os seguidores que fazem parte da base do candidato do PSL, um número significativo de usuários que aderiram à plataforma Twitter em torno do mês de julho têm baixo número de seguidores.
3) Esses perfis têm também um mesmo padrão e não mudam o nome de usuário atribuído automaticamente pelo Twitter, resultando em nomes como @joao123456789.
4) Estes nomes de usuário com sequência de números orbitam as hashtags, que ganham visibilidade em grande parte por perfis com esta característica.
5) Algumas mensagens em que Bolsonaro dizia apenas “boa noite” ou que tinham a bandeira do Brasil obtinham engajamento enorme e isso colocava sua R&V à frente de outros candidatos. Uma das características desses bots – programas de computador que são acionados automaticamente por palavras, expressões ou sinais e disparam frases armazenadas – é justamente a atuação a partir de expressões simples como “boa noite”.
Nesta semana, a pesquisa da AJA analisou 1.725.433 interações entre 803.555 usuários no ecossistema das eleições no Twitter. Os mapas de relevância e visibilidade e de influência e afinidade dos pré-candidatos revela os erros, acertos e os caminhos que podem ser feitos para ganhar relevância na rede. A versão interativa dos mapas está disponível para assinantes.