Por Maria Luiza Abbott e Marcelo Stoppa
O intenso engajamento de seguidores dos dois grupos que ocupam os extremos do espectro ideológico com seus respectivos pré-candidatos dominou o ecossistema das eleições no Twitter na semana de 29 de junho a 6 de julho. De um lado, seguidores do deputado Jair Bolsonaro (PSL) e de outro, não só aqueles que seguem o ex-presidente Lula, mas também se engajaram entre si, os que acompanham Manuela D’Ávila (PC do B) e Guilherme Boulos (PSOL), aumentando a visibilidade dos pré-candidatos, segundo revela pesquisa semanal da AJA Media Solutions. Porém, a troca de tuítes entre seguidores da esquerda e da direita diminuiu, facilitando a criação de bolhas de informação bem definidas.
Nesta semana, o perfil @LulaOficial recebeu o maior volume de curtidas, retuítes e comentários. Ficou em 1º lugar no ranking semanal de relevância e visibilidade no Twitter e sua fatia do total de relevância dos pré-candidatos subiu de 18% para 29% em relação ao período de 22 a 29 de junho, como aponta o Índice de Reputação Social (SRI).
Bolsonaro ficou em 2º e sua fatia no total voltou a subir, chegando a 25%, depois de oscilar em torno de 20% por cinco semanas. Mesmo assim, ficou próxima da de Manuela, que aumentou de 20% para 24%, garantindo a ela o 3º lugar no ranking. Em 4º, @guilhermeboulos, que perdeu dois pontos em relação à semana passada, mas ainda permaneceu acima do patamar mínimo de relevância.
A visibilidade de Lula esta semana foi impulsionada no geral por um conjunto de tuítes que reforçam a narrativa de que ele é vítima de uma injustiça e que será mesmo candidato do PT à presidência. Dentro dessa linha, também contribuiu para aumentar o potencial de sensibilização do perfil dele na rede, uma troca de tuítes com o ex-presidente do Equador Rafael Correa, que recebeu uma ordem de prisão preventiva do governo do país na Bélgica, onde está morando.
Além do apoio de Lula e da resposta do equatoriano, tuitou em favor de Correa e do ex-presidente brasileiro mais um personagem de destaque na política da América Latina nos últimos anos, a ex-presidente argentina Cristina Kirchner. Ela disse que na América Latina está sendo executado um plano para perseguir e banir os líderes populares. Cada tuíte dos três sobre a questão gerou um engajamento superior ao que foi obtido individualmente pelos dez pré-candidatos que estão abaixo dos quatro primeiros no ranking.
Caiu o engajamento de seguidores de Bolsonaro com postagens do perfil de Lula. Ao mesmo tempo, cresceu o engajamento entre seguidores de Lula, Manuela e Boulos, que se aproximaram na rede, como mostra o mapa das regiões de influência e afinidade da AJA (abaixo).
O perfil @jairbolsonaro aumentou sua visibilidade usando a estratégia de ataque, que mobiliza seu pelotão de aguerridos seguidores. A mídia tradicional continua sendo um dos alvos preferidos dele, especialmente para indicar o que ele diz ser “fake news” ou tratamento injusto. Os seus tuítes com duros adjetivos e críticas ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) obtiveram elevado apoio entre os seguidores do deputado. Diferentemente do que acontecia até o fim de maio, porém, os tuítes que engajam seus apoiadores têm conseguido menor repercussão fora da órbita do perfil de Bolsonaro. Como resultado, sua visibilidade cresceu, mas ainda está abaixo do que era há seis semanas.
Número de seguidores e pesquisas de intenção de voto
Um dos métodos preferidos dos pré-candidatos para evidenciar seu potencial de votos é propagar o aumento do número de seguidores nas redes sociais. A pesquisa semanal da AJA Solutions, porém, mostra que a realidade não confirma a premissa de que quanto maior o número de seguidores, maior o resultado eleitoral. O ex-presidente Lula lidera as pesquisas de intenção de voto, mas tem menos seguidores no Twitter do que Bolsonaro, que está em segundo lugar na preferência dos eleitores. Marina Silva (Rede) tem o maior número de seguidores entre todos os candidatos, mas teria menos votos que Bolsonaro num primeiro turno quando o cenário exclui o ex-presidente, segundo as últimas pesquisas.
A capacidade de um pré-candidato em fazer sua mensagem chegar ao maior número de usuários no Twitter – a métrica de relevância e visibilidade analisada pela AJA semanalmente – também independe do número de seguidores. O perfil @jairbolsonaro festejou com um tuíte esta semana a marca de 1,2 milhão de seguidores, mas conseguiu gerar menos engajamento e obteve relevância inferior à de @LulaOficial, que tem 347,5 mil seguidores. Com mais de 1,9 milhão de seguidores, Marina vem obtendo baixa visibilidade no Twitter, pois seus posts vêm criando baixo engajamento entre seus seguidores e também não conseguem sensibilizar de forma relevante usuários que estão fora de sua órbita.
Os perfis robôs são outra questão importante, que prejudica a avaliação do verdadeiro impacto que o número de seguidores teria na popularidade dos pré-candidatos. Levantamento do Instituto InterLab com a ferramenta Botometer, da Universidade de Indiana, aponta que 14 pré-candidatos têm uma parcela de seguidores que são robôs controlados automaticamente. Pelo menos 36% dos seguidores de Marina e 34% dos de Bolsonaro seriam robôs, segundo esse estudo. O levantamento apontou ainda que Álvaro Dias (Podemos) teria o maior número de robôs entre seus seguidores – 64% de seus 409 mil seguidores.
Por que analisar mídias sociais
As campanhas nas redes aumentaram de intensidade nos últimos dois meses, depois que começou o período de arrecadação por internet, autorizada pela lei eleitoral. Seu impacto como meio de divulgação dos candidatos e de suas plataformas ainda não apareceu nas pesquisas, mas deverá ser maior do que em anos anteriores porque cresceu a penetração das redes no país e o prazo de duração do horário eleitoral na TV será menor em 2018.
A análise semanal do Twitter e mensal do Facebook feita pela AJA Solutions aponta os pré-candidatos que vêm obtendo maior relevância e, com isso, conseguem fazer com que suas mensagens sejam ouvidas por usuários das mídias sociais.
Foram analisadas esta semana 504.181 interações entre 246.927 usuários no ecossistema das eleições no Twitter.
Os mapas de relevância e visibilidade e de influência e afinidade dos pré-candidatos revelam os erros, acertos e os caminhos que podem ser feitos para ganhar relevância na rede.
A versão interativa dos mapas, que permite analisar o engajamento e as trocas usuários e candidatos, está disponível para assinantes.
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