Por Maria Luiza Abbott e Marcelo Stoppa
A chapa do ex-presidente Lula e do ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad manteve a liderança no ranking de relevância e visibilidade (R&V) no ecossistema das eleições no Twitter na semana de 17 a 24 de agosto. As métricas da pesquisa da AJA Solutions indicam que a chapa do PT conquistou 39,98% do total de R&V das chapas, aumentando quase 7 pontos percentuais em relação à semana passada, a maior expansão entre os que estão disputando a eleição para presidente e vice do Brasil.
Em 2º lugar no ranking, e em queda pela segunda semana, a chapa do deputado Jair Bolsonaro-General Mourão (PSL) que obteve uma fatia de 28,67% do total. Em movimento oposto, a chapa João Amoêdo-Christian Lohbauer (Novo), que ficou em 3º lugar no ranking com 13,58% do total de R&V dos candidatos, registrando um aumento de mais de 3 pontos percentuais em relação à semana passada. A boa posição da chapa do Novo no Twitter já tinha sido identificada na pesquisa da AJA de 10 a 17 de agosto. Mas o crescimento da semana surpreendeu pela dimensão, equivalente à toda a relevância obtida por Ciro Gomes-Kátia Abreu (PDT) no ecossistema das eleições no Twitter, em 6º lugar no ranking desta semana.
O forte aumento da relevância de Lula-Haddad equivale ao dobro de R&V conquistado pela chapa Geraldo Alckmin-Ana Amélia (PSDB-PP), que ficou em 5º no ranking da semana. Alckmin e Ana Amélia intensificaram sua estratégia e conseguiram aumentar sua fatia de relevância, mas atraíram críticas e cometeram erros. O perfil da vice, por exemplo, tuitou um vídeo de um evento dos dois no Rio, com apoio e empolgação do que parece ser uma grande plateia. Seria altamente positivo para reforçar a percepção sobre a chapa, mas uma das imagens mostra claramente pessoas fazendo o L com as mãos, símbolo do apoio usado pela campanha de Lula.
Já Bolsonaro-Mourão perdeu 2,4 pontos percentuais de R&V em relação à semana passada, o equivalente a mais de 4 vezes a relevância da chapa liderada por Álvaro Dias (Podemos) na semana.Com baixa intenção de votos, segundo as pesquisas, a chapa Guilherme Boulos-Sonia Guajajara (PSOL) ficou em 4º lugar no Twitter. Lidera o grupo de candidatos e vices que não conseguiram romper o patamar de relevância – a partir do qual a mensagem de cada integrante da chapa tem ressonância e potencial para persuadir potenciais eleitores no ecossistema das eleições no Twitter.
No outro extremo, Marina Silva-Eduardo Jorge, bem posicionada nas pesquisas de opinião mas que caiu de 4º para 8º lugar no ranking de relevância esta semana, perdendo até para a chapa liderada pelo nanico José Maria Eymael (Democracia Cristã). Eymael ficou em 7º lugar com o que a rede interpretou como sendo uma piada sobre sua ausência dos debates. Num cenário em que Lula é retirado da lista de candidatos analisados no ecossistema das eleições no Twitter, a chapa Bolsonaro-Mourão seria líder no ranking, como registrado na semana passada. Com 36,02% do total de relevância das chapas, a chapa do PSL apresenta, também nesse cenário, perda de R&V, embora um pouco menor.
Em 2º lugar, a chapa Haddad-Manuela D´Ávila, que ficaria com 24,49% do total de relevância e teria um crescimento um pouco menor do que no cenário com Lula. A posição das demais chapas pouco varia com a ausência do ex-presidente entre os perfis analisados na semana, mas a fatia de R&V de Amoêdo-Christian aumenta mais do que no cenário anterior.
Movimentos no centro e na direita
Foi intensa a movimentação entre os usuários do Twitter que acompanham as eleições nas órbitas das chapas de centro e de direita. O algoritmo usado na pesquisa e a análise qualitativa indicam que cresce a relevância da chapa de Amoêdo entre perfis que estão na órbita de Bolsonaro – o general Mourão não tem conta no Twitter – e de Alckmin. Cresce também a visibilidade da chapa de Ciro entre usuários que circulam entre os perfis de Marina Silva (centro-esquerda) e Alckmin (centro). Ciro-Katia tiveram o melhor desempenho entre as três chapas na semana, mas todos tiveram baixa R&V no Twitter e o movimento tem pouco impacto na rede.
No mapa das regiões de influência e afinidade (abaixo), observa-se o aumento da comunidade em torno de Amoêdo. Também é visível a formação de um núcleo em torno de Ciro, cristalizando-se fora do grupo de afinidade liderado por Lula, Haddad, Manuela e Boulos. A versão interativa dos mapas de relevância e visibilidade e de influência e afinidade dos candidatos e seus vices permite a análise direta dos movimentos, iniciativas e tendências na rede.
Busca de opções de comunicação e papel de influenciadores
O algoritmo da pesquisa detectou uma movimentação de apoiadores de Bolsonaro para atrair seguidores a participarem de uma rede social alternativa, voltada apenas para aqueles com afinidade com pautas da direita. As mensagens instruíam os usuários a baixar um aplicativo para poder acessar esta rede. Os motivos apresentados para que troca de mensagens não se desse mais no Twitter giram em torno de uma suposta censura imposta pela rede social.
As ações coordenadas para impulsionar (ou, no jargão das redes, “fazer subir”) hashtags no período que antecedeu o debate do dia 17 de agosto na TV preocuparam o Twitter. Ao entender que poderiam ter sido usados até métodos ilícitos, a rede social decidiu excluir as hashtags impulsionadas por esse meios. Surgiu um conflito: de um lado o Twitter preza pela sua governança e quer evitar um caminho já percorrido pelo Facebook, cujo valor de mercado e confiança dos usuários foram reduzidos face ao volume de notícias falsas (as “fake news”) publicadas em sua plataforma em outros períodos eleitorais; do outro lado, usuários-eleitores que se frustram por serem impedidos de utilizar o Twitter, ignorando os termos de utilização e acusando a plataforma de censura.
Existe uma ideia errônea de que a Internet seria um território completamente livre, em que tudo é permitido. Cada plataforma tem sua própria mini-legislação que indica o que é tolerado. Assim, muitos usuários esbarram nesse limite imposto pela plataforma e buscam utilizar redes cada vez mais fechadas para encontrar a necessidade de validar suas opiniões, mesmo que estapafúrdias. É este o movimento que arrebanha usuários para cantos da Internet nos quais a checagem de fatos e notícias dificilmente chega e, ao mesmo tempo, forma campos cuja opinião não encontra oposições.
Foi feito o mapeamento das ações online para arregimentar usuários para o aplicativo Gab e foram encontrados padrões de comunicação que evidenciam a coordenação das ações nas 7 mil interações analisadas. Está disponível uma versão interativa do gráfico ao lado para assinantes da newsletter da AJA. A utilização de aplicativos paralelos para a comunicação já foi tentada anteriormente. Alckmin chegou a lançar um aplicativo próprio, o Talckmin, em junho, mas não decolou.
No dia 26 de agosto foi revelado que uma agência de marketing digital mineira teria feito pagamentos para que uma jornalista influente publicasse em sua conta no Twitter mensagens de apoio a lideranças do PT, como Gleisi Hoffmann, presidente do partido, e Luiz Marinho. A prática configuraria uma infração passível de multa tanto para a agência quanto para a “digital influencer”, de acordo com a resolução do TSE de número 23.551, de 18 de dezembro de 2017, que pauta a campanha eleitoral online.
O assunto se prolongou no Twitter e 24 horas depois da publicação da matéria com a denúncia, os usuários ainda discutiam em torno da hashtag quase humorística #mensalinhonotwitter, aludindo o escândalo de corrupção do mensalão. Ainda não é possível prever se haverá impacto sobre a chapa do PT. Desde então usuários têm caçado perfis cujo conteúdo publicado mostra indícios de publicidade e compartilhado. Se por um lado há os que repudiam a intervenção da plataforma da rede social na comunicação entre os perfis, parece que a regulação da comunicação feita pelos próprios usuários é tolerada. Mais sobre isso na análise da próxima semana.
Nesta semana, a pesquisa da AJA analisou 1.106.483 interações entre 519.770 usuários no ecossistema das eleições no Twitter. Para continuar a leitura, clique aqui.
Mapeamentos da rede
Colhemos 1.106.483 interações entre 519.770 usuários no ecossistema das eleições no Twitter para investigar a campanha eleitoral dos principais candidatos a presidente do Brasil. Em seguida, filtramos os dados descobrir onde estão interações mais relevantes para em seguida mapear o comportamento do usuário-eleitor: como interage com o conteúdo publicado pelos candidatos, o que compartilha, como se organiza e como participa nas redes sociais com suas opiniões, hashtags e memes.
O resultado do nosso mapeamento, além das análises aqui apresentadas, é apresentado em forma de duas cartografias que representam visibilidade, relevância e afinidade. A primeira cartografia abaixo é feita de pontos que podem ser um tuíte, um usuário, uma imagem ou uma hashtag (veja a legenda). Já tamanho de cada ponto é proporcional à visibilidade e à relevância que lhe é aferido. As linhas mostram os fluxos de mensagens e conexões entre usuários.
Em seguida, a segunda cartografia tem a mesma estrutura da primeira, porém com uma diferença: as cores indicam comunidades. No caso das eleições, cada cor delimita uma zona de influência de um candidato, indicando quais usuários ou mensagens estão em maior afinidade com ele. Deste modo, podemos visualizar a variação do crescimento das zonas informacionais de cada um dos candidatos.
Esta visualização de dados possui uma versão interativa, disponível para todos os navegadores e sistemas operacionais e que permite explorar a nuvem de usuários, com todos os dados que coletamos. O acesso é gratuito para assinantes da nossa newsletter semanal. Entre em contato conosco para uma demonstração do relatório completo ou seja notificado por e-mail quando um novo relatório estiver disponível.