Para Leonardo Mello de Carvalho, economista do IPEA, é possível vislumbrar a saída da crise, mas em um ritmo de recuperação da economia deverá ser mais lento do que o verificado em ciclos recessivos Anteriores. Mesmo que neste último semestre do ano o Produto Interno Bruto (PIB) deixe de cair, pelo efeito das quedas ocorridas anteriormente a economia do país terá encolhido 3,1% do PIB.
A agricultura, que deu grandes contribuições à economia no semestre anterior, teve queda de 2% do PIB na passagem entre o primeiro e o segundo trimestre de 2016 devido à redução dos preços de alguns dos alimentos produzidos. Mesmo o aumento da produção deve contribuir pouco para mudar esta trajetória do PIB.
Mello de Carvalho ofereceu a Os Divergentes uma análise abrangente das causas da recessão econômica. Confira abaixo:
“Além da forte deterioração da demanda doméstica, a recessão atual tem como característica a sua longa duração. Pelo lado do consumo, tanto a fragilidade do mercado de trabalho, refletida na queda dos níveis de ocupação e do rendimento real, quanto a trajetória de preços em elevação, têm mantido as famílias avessas ao risco. Além disso, o encarecimento do crédito, somado ao elevado nível de endividamento das famílias, restringe as decisões por novos financiamentos, assim como limita a sua oferta, por parte dos bancos, em virtude do temor pelo aumento da inadimplência. Esse cenário ainda negativo se reflete no mau desempenho do consumo de bens e serviços que, assim como o PIB, registrou o sexto recuo seguido, caindo 0,7% na passagem entre o primeiro e o segundo trimestres– na série com ajuste sazonal.
Nesse contexto, a reversão da trajetória de queda do consumo somente ocorrerá a partir do momento em que o mercado de trabalho der sinais de recuperação. É sabido, todavia, que a dinâmica do emprego envolve defasagens em relação ao comportamento médio das demais variáveis da economia. Sendo assim, é provável que o mercado de trabalho ainda sofra nova deterioração ao longo do segundo semestre desse ano.
Até o momento, diferentemente do que vem acontecendo na indústria, a melhora dos níveis de confiança das famílias tem sido explicada, na sua maior parte, pelo componente “expectativas”, enquanto o componente responsável por medir a confiança na situação atual segue estagnado.
Se, por um lado, o consumo das famílias tende a exibir um ritmo de recuperação mais lento– que se reflete, por sua vez, no mau desempenho do setor de serviços–, por outro o comportamento dos indicadores de investimentos sugere um cenário mais otimista. Sendo este um componente da demanda que, historicamente, se recupera mais rapidamente na saída dos ciclos recessivos, é provável que a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), que representa a soma dos investimentos públicos e privados no país, seja novamente um fator de liderança para o crescimento da atividade econômica.
Embora a recessão tenha gerado uma elevada ociosidade na utilização dos fatores de produção – o que certamente inibirá esse processo em alguma medida – a produção doméstica de bens de capital registrou crescimento marginal ao longo de todos os meses do primeiro semestre de 2016.
Apesar da acomodação em julho, os dados divulgados na Pesquisa Industrial Mensal de Produção Física (PIM-PF), do IBGE, indicam que o setor acumulou alta de 11,6% neste período. Como consequência desse bom desempenho, a FBCF encerrou uma longa sequencia de retração, voltando a crescer após 10 trimestres consecutivos de queda. A alta de 0,4% no segundo trimestre foi a única variação positiva entre os componentes da demanda interna. Refletindo a melhora dos níveis de confiança empresarial, esse comportamento sugere a existência de alguma demanda represada por investimentos que, devido às incertezas no ambiente econômico e político, permanecia em compasso de espera.
Em síntese, o ciclo recessivo que afeta a economia brasileira desde o segundo trimestre de 2014 parece estar chegando ao fim. Embora exista uma elevada ociosidade na capacidade produtiva da economia brasileira, a recuperação deverá ser gradual, estando relacionada à dinâmica do mercado de trabalho, que se move com defasagens em relação à atividade econômica.
Para que esse processo de recuperação se amplie e se consolide será preciso que o ambiente econômico continue reduzindo o grau de incerteza e melhorando os níveis de confiança, o que dependerá de um bom encaminhamento em diversas questões de política econômica de caráter mais estrutural”