O clima político mudou. O presidente Jair Bolsonaro anunciou no fim de semana que o governo não deve mais mandar amanhã ao Congresso sua proposta de reforma administrativa. Amarelou. Embora, pelo que se sabe, a reforma só vá mudar a situação dos futuros servidores, Bolsonaro parece estar assustado com as manifestações e movimentos populares que se espalham pelo continente, sobretudo pelo exemplo do Chile e pela convulsão que tomou conta da Bolívia.
Pode ser um ato de prudência de Bolsonaro, que viu ontem o ex-presidente Lula — livre, leve e solto — falar para milhares de pessoas no Recife. O discurso de Lula, além de ataques àqueles que considera seus algozes e responsáveis pelos 580 dias de prisão, está focado na deterioração das condições de vida dos brasileiros, no desemprego e na perda de direitos. Obviamente, Bolsonaro não quer dar munição ao petista — até porque é um neoconvertido e não leva tanta fé assim na agenda liberal que Lula critica.
A reforma administrativa não tem mesmo a menor chance de ser votada este ano, assim como o pacotaço enviado pela equipe de Paulo Guedes ao Congresso há dias. A reforma tributária poderá ser enviada nos próximos dias ao Legislativo, mas nessa primeira etapa vai mexer apenas com impostos federais, como o PIS e a Cofins, e terá pouco alcance.
O problema de é que, ao botar o pé no freio da agenda reformista liberal, Bolsonaro compra brigas em casa e no Congresso. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, embarcando de Nova York para Brasília no domingo à noite, já reagiu, segundo o site Poder 360, afirmando considerar o adiamento da reforma administrativa “uma sinalização péssima” .
A dúvida agora é se Bolsonaro, com seu estilo biruta de aeroporto de articulação política, vai recuar do recuo.