O massacre de Manaus e o Coaf

Senadores Alcolumbre e Olímpio, na sessão do Coaf - Foto Orlando Brito

O mundo político parou para discutir uma espécie de sexo dos anjos – a ida do Coaf da pasta da Justiça para a da Economia – e ficou longe da pauta da vida real . Muita energia foi gasta nas idas e vindas do Planalto e nos esforços do ministro Sergio Moro para manter o órgão sob seu chapéu, mas, do ponto de vista técnico, o Coaf vai ficar onde sempre esteve e, a não ser por um arranhão simbólico na imagem de Moro, nada muda tanto assim.

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Enquanto falávamos de Coaf, porém, 55 detentos de Manaus acabaram mortos numa briga facções dentro do sistema penitenciário. O desespero de suas famílias, e de outras que não sabiam se seus parentes estavam vivos ou mortos, ocupou no noticiário espaços semelhantes ao lero-lero do Coaf. O distinto público teve oportunidade de ver, quase em sequência, as notícias sobre a chacina de Manaus e as matérias mostrando a discurseira política, as confusões de plenário e o vai-e-vem do Planalto em torno do Coaf.

Ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro – Foto Orlando Brito

Não se viu, além das lamentações protocolares, esses mesmos líderes e comandantes do Executivo e do Legislativo – que encontraram tempo para tomar um café e conversar sobre um pacto imaginário – apresentando medidas ou propostas para resolver a situação nos presídios brasileiros. Curiosamente, os temas estão nas mãos dos mesmo personagens – além do presidente da República e dos presidentes da Câmara, do Senado e do STF, o agora ex-futuro chefe do Coaf, o ministro Sérgio Moro.

Problemas como superlotação, corrupção, ação de facções e outras mazelas que tornaram as cadeias sucursais do inferno continuarão, dentro de algumas horas, a ser solenemente ignorados e excluídos das reuniões e do debate político. Alguns detentos foram deslocados para outros presídios, o ministério da Justiça enviou para Manaus a força nacional e a vida segue até o próximo massacre.

Talvez a situação fosse diferente se o meio político empenhasse, na solução para a questão penitenciária, ao menos uma fração do tempo e das energias gastas nas disputas internas do poder e no esforço para mostrar à platéia que estão combatendo a corrupção.

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