Narrativa da herança maldita tem que ser calibrada

Baixou certa inquietação entre economistas e integrantes do setor produtivo com a estratégia do governo Temer de inflar o tamanho de sua herança maldita para adiar eventuais críticas e cobranças. A previsão do déficit público, por exemplo, a cada dia aumenta mais e chega, nas palavras de alguns ministros, a estratosféricos R$ 200 bilhões, reforçada pela inclusão de novos esqueletos, frustração de receitas, redução na arrecadação.

Tem lógica o raciocínio de que, divulgando amplamente esse estado de coisas, Temer pode ganhar um pouco mais de boa vontade e tolerância por parte de quem começaria a cobrar logo resultados de seu governo.

Ao mesmo tempo, porém, a narrativa da herança maldita precisa ser cuidadosamente calibrada, sob o risco de desenhar um cenário tão negativo que deprima mais ainda a economia. Quem acompanha a movimentação do mercado lembra que a economia vive de expectativas, que precisam ser administradas.

O novo governo injetou esperanças, ainda tênues, em agentes econômicos e investidores. Mas esse clima pode acabar sendo azedado pela divulgação de números mais catastróficos do que se esperava, que podem assustar a turma e afugentar os sonhados investimentos.

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