Depois da forma grosseira como o presidente Jair Bolsonaro conduziu o processo de demissão do então presidente do BNDES, Joaquim Levy, neste fim de semana, o que mais se destacou no episódio foi a atitude do ministro da Economia, Paulo Guedes. Mal foram divulgadas as declarações intempestivas do presidente, Guedes disse reconhecer a “angústia” presidencial e tratou de propagar que estava também insatisfeito com Levy.
Digamos que seja verdade, e que o mesmo Guedes que batalhou para levar Joaquim Levy para o BNDES há seis meses tenha ficado profundamente decepcionado e irritado com sua gestão nesse período. Ainda assim, o normal seria botar panos quentes na situação e preparar uma substituição civilizada, sem humilhações para Levy e, sobretudo, sem provocar a perplexidade e a insegurança que o episódio trouxe ao mercado e ao establishment econômico.
Por trás da atitude de Guedes está, segundo observadores experientes da área política, uma tentativa de mostrar ao mundo que não está fraco como todo mundo pensaria ao constatar que um de seus principais auxiliares foi demitido pelo presidente da República sem consultá-lo.
Paulo Guedes “aderiu” rapidamente à demissão de Levy – que tirou de uma diretoria do Banco Mundial para assumir o cargo – para não tornar explícito o fato de que, diferentemente do que pensavam o mercado e boa parte das elites há seis meses, o governo vai ficando muito mais de Jair Bolsonaro do que de Paulo Guedes.
Aliás, uma obviedade no presidencialismo com eleições diretas, apesar da relutância de muita gente em enxergar. Também no plano das evidências está o fato inegável de que o ministro da Economia – assim como o da Justiça, por razões diversas – se enfraqueceu.
Ainda que Guedes vá nomear o substituto de Levy no BNDES, escolhendo seu perfil e determinando quais mudanças serão feitas na organização do banco, esse sujeito, assim como tudo o que ele fizer, estará sujeito a levar uma paulada fatal de Bolsonaro quando ele acordar de mau humor num sábado de manhã.