A ida do ministro Sergio Moro à CCJ do Senado hoje foi o primeiro round de uma luta que pode estar longe de acabar. O ex-juiz da Lava Jato não saiu nocauteado. Ele repetiu dezenas de vezes a palavra “sensacionalista” para se referir à divulgação das conversas pelo The Intercept e apostou na narrativa de que se trata de uma trama para acabar com a Lava Jato. Mas Moro caiu em provocações, perdeu a calma em alguns momentos e deixou lacunas em sua narrativa.
As intervenções da oposição, notadamente dos senadores Humberto Costa (PT-PE), Fabiano Contarato (Rede-ES) e Angelo Coronel (PDS-BA), tiveram claramente dois objetivos: tirar Moro do sério e levá-lo a se comprometer com afirmações que poderão ser contestadas futuramente em novos vazamentos do The Intercept.
No primeiro caso, os oposicionistas foram bem sucedidos diversas vezes. Moro deu respostas atravessadas e chegou a confrontar senadores como Contarato, que questionou sua imparcialidade no julgamentos de casos nos quais teve papel de condução, como o do ex-presidente Lula. Embora o senador tenha ressalvado não estar questionando a Lava Jato como um todo, o ministro reagiu de forma agressiva: “O senhor defende então a anulação de tudo? Devolvermos o dinheiro para o Renato Duque, o Paulo Roberto?”.
Mais adiante, Moro disse ao senador Rogério Carvalho (PT-SE) que ele estava “fantasiando” e que deveria se informar melhor sobre uma suposta influência sua na discussão da dosimetria das penas no TRF4. Teve uma altercação com Humberto Costa mais adiante, quando fez críticas ao The Intercept, afirmando estar, desde o domingo do primeiro vazamento, “esperando grandes revelações bombásticas que não vieram”.
Num comportamento que, para alguns senadores, beirou a arrogância, Moro citou por diversas vezes um artigo de um autor americano sobre o assunto que teria como título “O incrível escândalo que encolheu”.
O ex-juiz da Lava Jato pode estar certo. Ou não. Nesse caso, ao decretar antecipadamente o fim do caso The Intercept, pode ter pisado numa casca de banana que lhe foi jogada no caminho. A respeito da conversa vazada em que recomendava não melindrar o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso com uma investigação, disse que esse caso não estava sequer na sua alçada – o que levou seu inquisidor, Humberto Costa, a considerar a situação de estar tentando interferir nele mais grave ainda. Irritado, Moro recusou-se, inclusive, a responder a segunda intervenção de Costa.
Sergio Moro também foi indagado sobre conversas com o TRF-4, que considerou “fantasias”, e não confirmou nem negou a autenticidade das mensagens vazadas, afirmando que elas “podem”ter sido adulteradas. Escapou dessa resposta ao dizer que saiu do Telegram em 2017 e não tem mais os textos. Ao ser instado por Angelo Coronel a autorizar que o próprio Telegram as divulgue, ou a pedir que o procurador Deltan Dallagnol o faça, desconversou.
O que ficou do depoimento de Moro – ou, ao menos, de suas primeiras quatro horas – foi a sensação de que a crise da Vaza Jato não acabou.