Com alguns anos de atraso, o ministro Luiz Fux, hoje interinamente na presidência do STF, fez aquilo que, segundo relatos, prometera aos petistas ao ser entrevistado por eles por ocasião da indicação para a vaga no Supremo: matou no peito. Na época, tratava-se do esperado julgamento do Mensalão, no qual Fux esqueceu todas as promessas e atuou pela condenação dos petistas. De lá para cá, muita coisa mudou, inclusive, ao que parece, o próprio Fux, que nesta quinta-feira determinou a suspensão da investigação sobre as movimentações suspeitas do ex-assessor da família Bolsonaro, Fabrício Queiroz no Ministério Público do Rio.
A suspensão é temporária, pois é muito possível, até bem provável, que o relator do caso, ministro Marco Aurélio, determine a retomada das investigações, que têm também como alvo indireto o ex-chefe de Queiroz, o senador eleito Flávio Bolsonaro, quando acabarem as férias do Judiciário.
É aí, porém, que está o pulo do gato: quando isso acontecer, a partir de fevereiro, Flávio terá assumido seu mandato no Senado e poderá abrir uma discussão sobre o alcance do foro privilegiado e pedir para ser investigado pelo próprio STF — onde, todos sabem, as coisas costumam acontecer em ritmo bem mais lento. No mínimo, a decisão de Fux permite à família e ao governo Bolsonaro ganhar tempo, na esperança de que, até o caso voltar a andar, tenha baixado o fogo de sua repercussão na mídia.
É improvável, porém, que isso aconteça. A mídia deve continuar em cima do tema e a decisão de Fux já está provocando reações entre políticos e juristas nas redes sociais. Afinal, a suspensão de uma investigação que pode envolver o filho do presidente desconstrói o discurso de combate à corrupção e à impunidade com o qual Bolsonaro se elegeu.