Enquanto o país está entretido com a Covid do presidente da República, o senador Flávio Bolsonaro prestou depoimento no Ministério Público do Rio no escândalo das rachadinhas e o habeas corpus impetrado pela defesa de Fabrício Queiroz e de sua mulher, Marcia Oliveira, chegou às mãos do presidente do STJ, ministro João Otávio Noronha. Com o recesso do Judiciário, o ex-assessor, hoje preso em Bangu 8, deve escapar do rigoroso relator do caso, Félix Fischer, e ter seu destino decidido monocraticamente por Noronha.
Não será surpresa se o presidente do STJ, figura constante nas solenidades do Planalto e alvo de gentilezas do presidente Jair Bolsonaro – inclusive o apoio à criação de mais TRF no país – acolher o recurso para libertar Queiroz ou, mais provavelmente, colocá-lo numa segura e confortável prisão domiciliar. Na mesma tacada, poderá suspender a ordem de prisão contra Marcia, foragida até hoje. O ambiente, movimentado pelas notícias sobre a contaminação de Bolsonaro, seria propício para fazer passar a boiada do Queiroz.
Com isso, baixa-se a temperatura do caso, que andou alta nos últimos tempos, assustando a família Bolsonaro. Não se volta à estaca zero, já que em agosto possivelmente o STF remeterá as investigações de volta ao juiz de primeira instância, que deve voltar a turbiná-las. Mas o processo recua algumas casas no tabuleiro.
PRESIDENTE COM COVID NÃO DEPÕE
Bom para Bolsonaro e os seus. A Covid deve livrar ainda o presidente de uma outra saia-justa – seu depoimento no inquérito que apura interferência na Polícia Federal. Esta semana o relator do caso, ministro Celso de Mello, decidiria de que forma será dado esse depoimento, se presencial, como ele próprio vem defendendo para todas as autoridades citadas, ou por escrito, como sugeriu o PGR Augusto Aras. Com a contaminação do presidente pelo coronavírus, que o obriga a ficar em isolamento por cerca de duas semanas, ou o depoimento fica postergado ou será dado por escrito. E muita gente em Brasília comenta que a soma de recesso com covid parece ter tirado também das mãos do decano do STF um abacaxi.
Não pode passar pela cabeça de ninguém qualquer suspeita de que o anúncio da contaminação do presidente da República, justamente nesse momento, seja uma fake news. Uma fraude desse tipo exigiria um grau impensável de cumplicidade de outras autoridades, inclusive médicas e militares. Mas dá para concluir que, mesmo no azar de uma pandemia como essa, Bolsonaro é um sujeito de sorte.