Não se pode dizer que a reeleição do deputado Rodrigo Maia para a presidência da Câmara esteja perdida, mas não vai ser o passeio que muita gente previa. O apoio do PSL, partido do presidente Jair Bolsonaro, funcionou como uma faca de dois gumes.
Ao mesmo tempo em que neutralizou a oposição de alguns planaltinos, como o ministro Onyx Lorenzoni e os filhos do presidente, acabou por dar a Maia um carimbo governista que o fez perder apoios na oposição de esquerda. Afastou também de sua base de apoios o MDB e o PP, por razões mais pragmáticas, já que ambicionavam os cargos na Mesa e as comissões prometidas ao PSL. A candidatura do emedebista Fabio Ramalho cresceu e o PP apresentou o nome do deputado Arthur Lyra.
O Centrão, grupo conservador criado na era Eduardo Cunha e fiel da balança do poder na Câmara, implodiu. E quem veio em socorro de Rodrigo Maia? A esquerda. Nos últimos dois dias, PDT e PCdoB fizeram manifestações de apoio à candidatura do deputado do DEM.
Não é uma novidade a afinidade da esquerda com Maia, que sempre teve interlocução com esses partidos, incluindo até setores do PT. Mas seu inesperado papel decisivo nessa eleição sinaliza que a composição do poder e a correlação de forças no Legislativo poderá ficar mais complexa do que se pensava.
É evidente que Rodrigo Maia, para obter apoio público dos oposicionistas PDT e PCdoB, negociou com eles alguma coisa. Assim como fará nesta quinta com o PSB, em conversa com o governador de Pernambuco, Paulo Câmara, a quem pedirá ajuda para demover sua bancada de votar contra ele. Da mesma forma, algum compromisso Maia poderá vir a fazer com petistas que, no escurinho da urna secreta, poderão votar com ele.
Cresce em Brasília a impressão de que o grau de governismo do novo presidente da Câmara, seja ele quem for, não será dos mais altos.