Jair Bolsonaro já estava mal na foto da opinião pública e publicada com seu alheamento e a demora da equipe econômica em reagir à crise do coronavírus com medidas emergenciais. Ficou pior ainda neste domingo, quando saiu do monitoramento médico para ir à rampa do Planalto prestigiar a esvaziada manifestação de seus apoiadores contra o Congresso e o STF. Ao som de gritos de um grupo de gatos-pingados que bradava “AI- 5! AI- 5!”, acenou, posou para selfies, pegou em mãos e celulares alheios.
Muito além da demonstração de ignorância e do mau exemplo para a população, que a duras penas começa a se conscientizar dos cuidados para não se contaminar com o coronavírus, Bolsonaro inoculou mais uma dose cavalar do vírus da desconfiança na população, nos políticos, nos agentes econômicos, no país. Apoiou, com sua presença, um movimento com objetivos antidemocráticos – que, na democracia, tem até o direito de se manifestar, mas não poderia jamais, ter o apoio explícito de quem, há menos de um ano e meio, se elegeu dentro das normas da democracia para governar o Brasil sob as normas do Estado de Direito.
Diferentemente do que se esperava, o 15 de março não foi o protesto que, maior ou menor, poderia ter apontado os rumos da disputa política no país, confrontando bolsonaristas e oposicionistas. Acabou esvaziado, e não se sabe se pelo coronavírus ou pela redução numérica da infantaria bolsonarista diante dos fracassos e desmandos do governo. Tampouco será possível aferir o tamanho do outro lado, já que as manifestações convocadas foram desmarcadas em função da pandemia.
A única certeza que esse domingo triste nos deu é que Bolsonaro está muito doente. Quem confraterniza com golpistas que pedem a volta do AI-5 é golpista, por mais que tente se explicar no dia seguinte. E ponto final.