Ser chamado de traidor por representantes dos policiais e outras categorias ligadas à segurança parece ter calado fundo no coração do presidente da República. Hoje pela manhã, em São Paulo, Jair Bolsonaro chegou para um grupo de policiais militares e disse: “vou resolver o caso de vocês, viu?”. Sob o enfoque humano, resta lamentar que ele não tenha dito isso numa daquelas filas quilométricas de gente procurando emprego, ou mesmo para alguma criança das muitas que voltaram aos sinais de trânsito para vender balinhas. Sob o enfoque político, mais um desastre.
Provavelmente chocado pela manifestação em sua base, Bolsonaro está cuidando do caso dos policiais desde ontem. Segundo o Painel da Folha de S.Paulo, chegou a telefonar para o relator Samuel Moreira (PSDB-SP), pedindo uma mudança nas regras de aposentadoria dos policiais. Com isso, corre o risco de implodir a reforma da Previdência que Paulo Guedes enviou ao Congresso e que seus caciques tentam a duras penas aprovar.
Deputados governistas dizem que, aberta a exceção para os policiais, não haverá argumento possível para barrar emendas e destaques, na comissão especial e no plenário, para beneficiar outras categorias. Muito provavelmente, aquelas que ganham mais mas têm lobbies mais fortes, como os servidores do Legislativo e do Judiciário, do Tesouro e outras carreiras. Já havia sido mal recebido o privilégio dado aos militares, que terão sua seguridade regulada num projeto de lei separado, obviamente com normas mais brandas.
Com sua atitude de hoje, Bolsonaro joga por terra o discurso que sustenta a propaganda da Nova Previdência, que tem como eixo o “fim dos privilégios”. E mostra que, apesar da narrativa oficial de que todos são iguais perante a lei, no governo Bolsonaro alguns são mais iguais do que outros…