O coronavírus derrubou as bolsas mundiais — e do Brasil, claro —, está rendendo horas de cobertura contínua dos meios de comunicação e virou tema número 1 de redes e conversas. Lamentável, sobretudo pelos danos à economia mundial a partir do abalo à China. Dramático, quando se pensa na situação de brasileiros que estão no exterior, em locais afetados, querendo voltar para casa.
O Ministério da Saúde montou um centro de operações de emergência para monitorar os até agora nove casos suspeitos de coronavírus no país, subiu o nível de alerta e promete boletins diários. Tudo certíssimo.
O problema é que essas medidas de primeiro mundo para lidar com o vírus que assusta os mercados estão sendo tomadas no meio da bagunça e da inoperância que vêm marcando os serviços de saúde prestados no dia-a-dia aos brasileiros que sofrem de inúmeras doenças.
Os infectologistas vêm esclarecendo que, apesar de todo o pânico instalado, a taxa de letalidade do coronavírus vem ficando em torno de 2%, semelhante à de algumas gripes e inferior à de doenças que já estão banalizadas por aqui, como a dengue.
No ano passado, o Brasil teve um aumento de 488% nos casos de dengue em relação a 2018. Foram 1,5 milhão de casos, com 782 mortes em todo o país. E o que o Ministério da Saúde fez? Publicou no último dia 10 um comunicado alertando a população de que o verão é o período mais propício à propagação da dengue e que todos devem continuar mobilizados no combate ao mosquito transmissor. Nada de sala de crise, ação emergencial, boletins diários.
Pois é. Mais um dilema do subdesenvolvimento: antes de se apavorar com o coronavírus que viaja de avião, temos que tirar os mosquitos da sala.