Sem acreditar no potencial do presidenciável Ciro Gomes (PDT) em contribuir para a sua reeleição em Pernambuco, o governador Paulo Câmara (PSB), mesmo convencido de que o PT não vai retirar a candidatura da sua principal concorrente, a vereadora Marília Arraes, reafirmou seu apoio à candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Com isso, Câmara pretende dividir com a neta do ex-governador Miguel Arraes o apoio de Lula no Estado.
O motivo é simples: enquanto Ciro Gomes e os outros candidatos praticamente não pontuam nas pesquisas de intenção de voto em Pernambuco, Lula é quase uma unanimidade entre os eleitores pernambucanos. Assim, se para a eleição do candidato do PT o apoio do PSB não faz diferença no Estado, para Paulo Câmara será melhor manter uma aliança mesmo que informal com o ex-presidente do que gastar linha contra o vento empinando a candidatura do PDT.
Mesmo que não tenha Lula em seu palanque, uma fotografia com o ex-presidente já servirá para Paulo Câmara tentar convencer o eleitorado pernambucano de que (também) é um candidato apoiado por Lula. Para buscar essa identidade com o ex-presidente, o governador não mediu esforços e chegou mesmo a viajar a Curitiba numa tentativa frustrada de visitar Lula em sua cela na Polícia Federal.
Foi pelos votos de Lula em Pernambuco que nesta quinta-feira (12), Paulo Câmara declarou seu apoio à eleição do ex-presidente, mesmo após ouvir da presidente nacional do PT, senadora Gleisi Hoffmann (PR), que ao partido só interessa uma aliança com o PSB no plano nacional. O governador, que é vice-presidente nacional do PSB, fez a declaração após receber a senadora para café da manhã no Palácio do Campo das Princesas, sede do governo pernambucano.
Ele disse que pretende levar à convenção nacional do PSB, no dia 5 de agosto, o posicionamento do diretório estadual, de uma aliança com o PT em Pernambuco. Como maior ala do partido, conforme fez questão de destacar, Paulo Câmara disse que o diretório pernambucano não estaria isolado na proposta de apoio a Lula, mas teria também o apoio dos outros estados do Nordeste e de alguns do Centro-Oeste. A maioria do PSB, porém, defende uma aliança com Ciro Gomes.
Embora conte com o apoio do senador petista Humberto Costa, que busca a reeleição com um lugar na chapa majoritária do PSB, a aliança com o PT para reeleger o governador esbarra na resistência do Diretório Regional. É que ainda ressentido com os seis deputados socialistas do Estado que votaram pelo impeachment da presidenta Dilma Rousseff, sob a orientação de Paulo Câmara, o diretório não abre mão da candidatura da vereadora Marília Arraes, cuja vaga para senador em sua chapa já foi reservada para o deputado Sylvio Costa (Avante), que já faz campanha se apresentando como “o senador de Lula”, fiel escudeiro que sempre foi do ex-presidente.
Neta de Arraes e prima do ex-governador Eduardo Campos (PSB), morto na campanha presidencial de 2014, Marília trocou o PSB pelo PT e lidera as intenções de voto para o governo enquanto Paulo Câmara amarga um terceiro lugar, atrás da candidatura do senador Armando Monteiro (PTB). Este, por sua vez, ex-ministro de Dilma, é fiel e dileto amigo do ex-presidente e ainda mais próximo de Lula, ao contrário do atual governador.