Meirelles pode chegar ao 2º turno, mas precisa chutar a canela de Alckmin

Ao atacar Jair Bolsonaro, líder das pesquisas noves fora Lula, o candidato do MDB, Henrique Meirelles, está chutando a canela errada. Como numa corrida de obstáculos, o ex-ministro da Fazenda, que está nas últimas colocações, tem outros adversários a ultrapassar em sua tentativa de chegar ao segundo turno da eleição presidencial de outubro, com uma vaga reservada para quem for enfrentar o candidato do PT.

Meirelles precisa entender que já tem muita gente jogando casca de banana no caminho de Bolsonaro. São seus adversários mais imediatos Geraldo Alckmin (PSDB+Centrão), Marina Silva (Rede+PV) e até mesmo a Rede Globo, que com sua recente conversão à democracia e sem a menor cerimônia passou a tratar a ditadura instalada com o seu patrocínio em 1964 como “golpe militar”, colocando-se como adversária do ex-capitão do Exército. Ao jogarem no lixo a biografia do pai, os filhos de Roberto Marinho fazem esse trabalho no comando da sua equipe de PJs.

Como Marina não tem fôlego para chegar ao segundo turno, neste momento o adversário preferencial a ser vencido por Meirelles é Geraldo Alckmin. Assim, deixando de lado o imbróglio entre o tucano, Marina a Bolsonaro, o ex-ministro tem como melhor alternativa pelo menos por enquanto apontar para Alckmin a sua metralhadora giratória. Se conseguir encostar no ex-governador paulista, Meirelles, que já tem a confiança do mercado, poderá avançar sobre os votos do centro político representado pela candidatura da coligação PSDB+Centrão.

No campeonato mundial disputado no mês passado na Rússia, a final foi disputada entre uma equipe favorita, a França, e outra zebra, a Bélgica. Além de ter revelado diversas zebras, a Copa da Rússia assistiu seleções favoritas desembarcarem em Moscou como virtuais campeãs, mas que voltaram para casa antes do segundo turno. Alemanha, Espanha, Inglaterra, Argentina e até mesmo a legião estrangeira do técnico Tite esbarraram em azarões de pouco prestígio no futebol como Croácia, Japão e Costa Rica.

Apostar na impossibilidade do MDB chegar ao segundo turno com o ex-ministro Henrique Meirelles não seria apenas desprezar os resultados do mundial deste ano, mas também ignorar o profissionalismo dos dirigentes de um partido que está no poder dividindo o governo com todos os presidentes civis que chegaram ao Palácio do Planalto desde o final do regime militar.

Desde que o ex-governador Orestes Quércia (SP) perdeu a segunda eleição presidencial direta disputada pelo MDB após a ditadura, em 1994, esta é a primeira vez que o partido volta a encarar as urnas com candidato próprio. Até então, preferia ampliar sua capilaridade nas instâncias inferiores de governo, nos Estados e Municípios, nas Assembleias e Câmaras de Vereadores, e manter hegemonia na Câmara e no Senado para dividir com o presidente de plantão o exercício do governo federal.

Se o PT tem a cara da esquerda e até exerce sua hegemonia, o MDB é o partido que mais se parece com o Brasil, ou mesmo com o brasileiro que tolera a corrupção nossa de cada dia, aquela em que avançar sinal de trânsito, entrar no serviço público pela janela, superfaturar uma obra de condomínio, ou registrar uma empresa para trabalhar como pessoa jurídica (PJ) acrescentando aos rendimentos o que devia ser da Previdência Social ou do Imposto de Renda não é considerada nenhum pecado.

É assim que o MDB construiu uma máquina de fazer votos que conta hoje com o presidente da República (que chegou lá eleito pelos votos dos partidos que hoje estão no entorno de Alckmin, mais o PSB e o próprio MDB), quatro ministros, cinco governadores, três vice-governadores, 51 deputados federais, 18 senadores, 118 deputados estaduais, 1.049 prefeitos, sendo quatro de capitais, 778 vice-prefeitos e 7.564 vereadores.

Com mais de 2,3 milhões de filiados, número em que só perde para o PT, o MDB está organizado em 27 diretórios estaduais e outros tantos nas capitais, 3.338 diretórios municipais e 25 diretórios estaduais da juventude. É toda essa estrutura partidária que está à disposição de Meirelles, e foi contando com essa sua capilaridade que faz do MDB o partido mais presente de Brasília aos mais distantes grotões que o ex-ministro alimentou a confiança na sua candidatura.

Além disso, ele tem sobre Alckmin a vantagem de não ter o desgaste de ter passado por três governos de São Paulo e deixado o Estado mais rico do país com problemas nas áreas de educação, saúde e segurança pública que não fazem nenhuma inveja, por exemplo, ao Maranhão, exatamente uma das mais pobres unidades da federação. Professores da rede estadual do Acre, não é novidade, são melhor remunerados que os do Estado de São Paulo.

Outra vantagem de Meirelles, é que tanto o PSDB e seus partidos coligados quanto as administrações de Alckmin também estão sob as luzes da ribalta quando o assunto é corrupção, obrigando o ex-governador a evitar esse espinhoso tema, enquanto o ex-ministro da Fazenda não enfrenta nenhum problema nessa área. Alckmin também não pode acusar Meirelles de ser o candidato de Temer, porque ninguém encarna mais a cara do atual governo do que o PSDB e o Centrão, enquanto o ex-ministro é visto como um técnico vitorioso no governo Lula que voltou a prestar seus serviços ao país.

Se souber explorar as contradições de Alckmin, que já enfrenta uma cristianização por parte dos partidos aliados em diversos Estados, Meirelles poderá ainda atrair aqueles eleitores que Lula conquistou quando se juntou ao empresário José Alencar, que por duas vezes foi seu vice-presidente. No campo econômico, o ex-ministro da Fazenda também pode denunciar como fake a reforma tributária pregada por Alckmin, a mesma contra a qual sempre jogou quando governador de São Paulo.

Ainda na economia, Meirelles pode insistir na necessidade de redução de gastos públicos, mas com temas de apoio popular. A imoral reivindicação de juízes e procuradores para anexar aos seus salários o auxílio moradia de R$ 4,3 mil – valor superior a quatro aposentadorias de mais de 90% dos aposentados do INSS – talvez tenha apelo maior que a reforma da Previdência, assim como o pagamento de honorários de sucumbência aos advogados da União cujos salários já encostam no teto do funcionalismo. O ex-ministro também pode propor sem medo a cobrança de Imposto de Renda sobre os dividendos, como os que a Petrobras pagou no primeiro semestre aos seus acionistas, suficientes para cobrir por três anos o orçamento de bolsas de estudo da Capes.

Exclusão e não renúncia

Jacques Wagner

A excessiva moderação do PT da Bahia levou à exclusão, e não à renúncia, do ex-governador Jaques Wagner a candidato ao plano B do partido para substituir Lula na eleição para presidente da República. Sob Wagner, o PT baiano rifou a candidatura à reeleição da senadora Lídice da Mata (PSB) e um senador do partido fez corpo mole no apoio ao segundo governo de Dilma, cujo mandato Lídice defendeu com todas as forças. O ex-governador ainda tentou fazer Ciro o candidato do partido, com ele na vice. Quando Tancredo Neves montava seu governo em Minas, um deputado autocandidato a secretário plantava notas na imprensa e como não via seu pleito ser atendido, foi cobrar do governador eleito. “Doutor Tancredo, o que eu faço?”. A resposta estava na ponta da língua: “Diga que lhe convidei, mas você não aceitou”.

Geraldo Seabra é jornalista.

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