No segundo trimestre deste ano, em cujo mês de maio uma greve de caminhoneiros paralisou o país em protesto contra os elevados custos dos combustíveis, a Petrobras registrou um lucro líquido de R$ 10, 072 bilhões, mais da metade, R$ 5,259 bilhões, proveniente da venda de combustíveis. Se somados ao que ganhou de janeiro a março, os lucros da estatal nos primeiros seis meses de 2018 somam R$ 17,033 bilhões.
Este é o melhor resultado da companhia desde 2011, e representa quase duas vezes os R$ 9,5 bilhões de subsídios que vão sair do bolso do contribuinte para o governo cumprir o acordo que fez com os caminhoneiros para a suspensão do movimento, iniciado em 21 de maio e se estendeu por mais dez dias. Em seu rastro, a greve deixou um prejuízo de R$ 75 bilhões nos mais diversos setores da economia e uma queda da ordem de 1% no PIB.
Diante do resultado, a Petrobras pagou R$ 652,2 milhões aos seus acionistas, repetindo o valor que já havia distribuído no primeiro trimestre do ano. A cada três meses a estatal enche com dividendos os tanques dos acionistas, enquanto esvazia mensalmente os bolsos dos consumidores com os reajustes quase diários nos preços dos combustíveis.
Traduzidos em dólares, os quase R$ 7 bilhões que a Petrobras lucrou no primeiro trimestre do ano (janeiro a março) equivalem a US$ 2,106 bilhões. Esse valor é mais da metade do lucro de US $ 4,010 bilhões que a Exxon Mobil, a maior petrolífera do mundo, quase quatro vezes o tamanho da estatal brasileira, obteve no mesmo período.
Esses números também desmentem o estado pré-falimentar a que teria sido levada a estatal com os valores que lhe foram subtraídos nas tenebrosas transações apuradas pela Operação Lava-Jato, porque de 2017 para 2018 a Petrobras saltou da 10ª para a 8ª posição no ranking das maiores petrolíferas do mundo, informa a Economatica, especializada em informações financeiras.
Criada em 1953 para explorar o petróleo e garantir a autossuficiência e o abastecimento nacional, nos últimos dois anos a estatal não tem feito uma coisa nem outra. Enquanto fragilizou a exploração das jazidas do Pré-Sal e passou a importar derivados dos Estados Unidos, a Petrobras também passou a se desfazer de importantes ativos, na contramão do que fazem as suas concorrentes ao redor do mundo.
Em vez de seguir seus objetivos estratégicos, a empresa optou pelo lucro desenfreado para encher as burras dos seus acionistas com os preços internacionais que pratica no mercado interno com os derivados que podem ser aqui produzidos a partir do petróleo aqui extraído. Essa ganancia da estatal, somada à falência fiscal do governo federal e dos Estados impedidos de renunciar à receita dos tributos sobre a cadeia petrolífera, mais do que dobrou em dois anos os preços do diesel, da gasolina e do gás de cozinha.
A situação chegou a tal ponto que o deputado Jair Bolsonaro (PSL), líder nas pesquisas para a eleição presidencial noves fora Lula e assumido ignorante nos assuntos econômicos, apontou os lucros da Petrobras quando foi perguntado na entrevista que concedeu à Globonews, encerrada na madrugada deste sábado (4), sobre o que faria ao final do programa de subsídios para reduzir em 46 centavos o preço do diesel nos tanques dos caminhões. E deixou no ar a ameaça: se não cumpre o seu papel, a Petrobras pode ser privatizada.
Nós quem, cara-pálida?
Ao discorrer sobre os grandes projetos dos governos militares durante a entrevista à Globonews, como a hidrelétrica de Itaipu, Bolsonaro perguntou aos jornalistas que grande projeto poderia ser citado desde o governo Sarney, o primeiro pós-militares. “Nós fizemos o Plano Real”, respondeu Miriam Leitão, a mediadora da entrevista, em mais um ato falho da emissora e de seus jornalistas como cabos-eleitorais da candidatura do PSDB. E aqui ainda cabe a ressalva que o Plano Real, de quem o PSDB se beneficiou, foi gerido pelo governo Itamar Franco (PRN, partido que se elegeu com Collor mas que depois voltaria ao MDB) e executado por Fernando Henrique e depois por Ciro Gomes e Rubens Ricupero.