A seleção brasileira que o técnico Tite levou para a Copa do Mundo da Rússia, quase toda formada por jogadores que atuam no exterior, tem quatro ou cinco craques e um excepcional, Neymar. Os outros são apenas bons jogadores e só estão vestindo a camisa amarela pelo fato de atuarem em clubes estrangeiros. Alguns são tão desconhecidos da torcida brasileira quanto os seus próprios clubes.
Ao convocar seu time, Tite ignorou mais de 200 atletas e 18 dos 20 clubes da elite do futebol brasileiro que disputam a Série A do Brasileirão. Por não terem cedido nenhum jogador para a seleção, esses 18 clubes ficarão à margem do prêmio de 7 mil euros por dia que a Fifa concederá aos clubes por cada jogador que atuará por seus países neste mundial que começa esta semana em Moscou.
Foram salvos pelo gongo apenas o Grêmio, que cedeu um jogador, e o Corinthians, onde Tite foi buscar dois atletas. Assim, o clube gaúcho receberá da Fifa durante a realização do campeonato 7 mil euros por dia (cerca de R$ 30 mil pelo câmbio oficial) pela convocação de Geromel, enquanto o Timão embolsará o dobro dessa quantia por ter cedido Fagner e Cássio para o mundial.
No lugar dos clubes brasileiros excluídos, cujas finanças estão sempre no vermelho, irão receber o presente da Fifa times como o Shakhtar, da Ucrânia, por ter cedido o meia Fred e o atacante Taison, e o Beijing Guoan, de Pequim, que emprestou o meia Renato Augusto ao time de Tite. O clube ucraniano receberá o que for pago ao Corinthians, enquanto o time chinês embolsará quantia idêntica à reservada ao Grêmio.
Fundado em 1936, na cidade que lhe deu o nome atual depois de dois batismos anteriores, o Shakhtar disputa o campeonato ucraniano com outros cinco clubes, entre os quais o Dínamo de Kiev, com quem divide a supremacia do futebol local.
Já o Beinjing Guoan Football Club do ex-corintiano Renato Augusto, foi fundado em 1951, mas só se profissionalizou em 1992. Na Super Liga Chinesa, o campeonato nacional disputado por 16 clubes, seu principal adversário é o Shangai Shenhua.
Os outros clubes que vão engordar seus caixas com o milionário presente da Fifa por terem brasileiros de seus elencos na seleção brasileira são os italianos Roma, Internazionale e Juventus (um cada); os ingleses Chelsea e Liverpool (um cada) e Manchester City (quatro); os espanhóis Real Madrid e Barcelona (dois cada) e o Atlético Madrid (um), e o francês PSG de Neymar (três).
Com sua maioria no banco, em qualidade técnica esses jogadores da “legião estrangeira” de Tite nem sempre são superiores aos seus mais de 200 colegas que formam a elite do futebol brasileiro. Sua presença na seleção apenas transfere para milionários clubes europeus vultosas somas em euros que fariam falta aos endividados clubes brasileiros.
A pré-condição de experiência europeia do jogador exigida por Tite para integrar a seleção, deixa de fora jovens e talentosos jogadores brasileiros, como duas revelações de Santos e Flamengo que já têm seus passes comprometidos com clubes europeus. Uma vez na Seleção, esses jogadores correriam o risco de ser um Pelé de 1958, quando o Brasil foi pela primeira vez campeão do mundo.
Geraldo Seabra é jornalista