O pré-candidato do PDT Ciro Gomes a presidente da República nas eleições deste ano tem duas certezas. Se o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva conseguir superar sua condição de ficha-suja e registrar a sua candidatura, não haverá segundo turno. Mas se Lula for forçado a indicar um poste para o seu lugar, o segundo turno será disputado entre esse candidato do PT e o representante do centro ideológico do eleitorado.
Certo também de que jamais cairá nas graças dos petistas, Ciro Gomes trabalha para ser o candidato a enfrentar o poste de Lula. Por isso, o pré-candidato do PDT voltou suas baterias para o Centrão, com o apoio do empresário preferido para seu companheiro de chapa e de sólida presença no PIB nacional, o presidente da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), Benjamin Steinbruch, filiado ao PP.
Ciro acredita que Marina Silva (Rede) e Jair Bolsonaro (PSL) já chegaram onde seria possível e trabalha com a imobilidade das pré-candidaturas de Geraldo Alckmin (PSDB) e Henrique Meirelles (MDB), além das desistências de Flávio Rocha (PRB), já anunciada, e de Álvaro Dias (Podemos), na qual também não vê futuro, assim como a do ex-presidente do BNDES, Paulo Rabello de Castro (PSC). Dono das Lojas Riachuelo, Rocha já manifestou preferência por Ciro Gomes a Geraldo Alckmin.
Para alinhavar o apoio do Centrão a Ciro Gomes, Benjamin Steinbruch reuniu no último sábado (14), em sua casa de São Paulo, líderes do DEM, do PP, do Solidariedade e do PRB. A conversa girou em torno de uma adequação do projeto do candidato do PDT às propostas desses partidos, especialmente na esfera econômica. Para viabilizar o apoio, Ciro antecipou que não medirá esforços na definição de uma agenda comum.
A principal reivindicação do Centrão seria um compromisso de Ciro Gomes com a garantia do equilíbrio das contas públicas via reforma da Previdência Social, cuja necessidade em alguns aspectos o candidato do PDT já admitiu publicamente. Uma resistência a ser vencida é a promessa de Ciro de revogar a reforma trabalhista, aprovada no ano passado pelo Congresso Nacional. Mas ele poderá se dobrar aos argumentos patronais da necessidade de uma modernização da CLT imposta ao país por Getúlio Vargas ainda na primeira metade do século passado. Quanto aos cargos, a discussão ficaria para o momento de uma eventual montagem do governo.
No Centrão, a maior resistência à aliança com o PDT vinha do PRB, mas ao identificar similaridade entre Ciro Gomes e Geraldo Alckmin, o presidente do partido, o pastor e ex-ministro da Indústria e do Comércio Marcos Pereira reviu sua posição por acreditar no maior potencial do pedetista.
O apoio a Ciro Gomes obrigaria PP e PRB a devolverem os Ministérios da Saúde, da Agricultura e da Indústria e do Comércio, além da Caixa Econômica Federal. Mas a avaliação dos dirigentes desses partidos foi de que o benefício de participar do próximo governo vale o risco de perder os cargos no ocaso da presidência de Michel Temer.
Como esses partidos também são assediados por Geraldo Alckmin, o PDT tem pressa e tenta concluir as conversas ainda no decorrer desta semana. Ainda faltaria fechar com o PSB e com o PR. Quanto aos socialistas, a essa altura do campeonato já não teriam mais a garantia da vaga de vice-presidente na chapa de Ciro Gomes. Como o PR tem um pé na pré-candidatura de Jair Bolsonaro e outro na do PT, desde que a candidatura de Lula se confirme, a depender de conversas, essa vaga poderia ser deslocada para o empresário mineiro Josué Alencar, dono da Coteminas. Ele é filho de José Alencar, vice-presidente nos dois mandatos de Lula.
Geraldo Seabra é jornalista