Ao acertar o apoio ao pré-candidato do PSDB à Presidência da República, o ex-governador paulista Geraldo Alckmin, os partidos que compõem o chamado Centrão praticamente alijaram da eleição presidencial de outubro as candidaturas de Ciro Gomes (PDT) e Jair Bolsonaro (PSL) e confirmaram a presença do PT no segundo turno, mesmo com um poste do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O acordo com o Centrão deu a Alckmin a garantia de superar suas dificuldades atuais e de voltar a disputar o Palácio do Planalto no segundo turno das eleições, como já experimentou, sem sucesso, em 2006, quando foi vencido por Lula (PT), que conquistaria seu segundo mandato.
Na ocasião, Alckmin investiu pesadamente em um discurso moralista anticorrupção, aproveitando-se do escândalo que ficou conhecido como “Mensalão do PT”, que levaria para a cadeia expressivas lideranças do partido. Por motivos óbvios, o candidato do PSDB não poderá retomar esse discurso nas eleições deste ano.
É que esse mesmo escândalo resultou também na prisão e condenação de dois fortes aliados de Alckmin nessa sua segunda tentativa de se eleger presidente da República. Na sua aliança estão os ex-deputados Roberto Jefferson (PTB) e Waldemar da Costa Neto (PR) são fiéis avalistas da candidatura.
Além disso, Alckmin viu recentemente o ex-presidente do PSDB, o ex-governador mineiro Eduardo Azeredo, ser conduzido à prisão após ser condenado a 20 anos de prisão pelo “Mensalão tucano”, que antecedeu ao do PT. Ele ainda carrega nas costas denúncias de corrupção em seu próprio governo, que levaram para a cadeia alguns de seus ex-auxiliares, como seu secretário de Transportes, Laurence Casagrande Lourenço, acusado de superfaturamento de R$ 600 milhões (mais de 300 tríplex) nas obras do trecho norte do Rodoanel em São Paulo, dinheiro que teria sido usado no financiamento de campanhas do ex-governador.
Com o tema de corrupção fora do debate no segundo turno, Alckmin terá seu discurso limitado para enfrentar o candidato do PT. A maior realização do PSDB quando esteve na Presidência da República data ainda do século passado, quando o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso administrou com sucesso, e em certo momento até com ajuda de Ciro Gomes, o Plano Real, gestado no governo Itamar Franco (PRN) para combater a inflação. Itamar, que voltaria para o PMDB após deixar a Presidência da República, chegou ao Palácio do Planalto porque era vice de Fernando Collor (PRN), afastado do poder com o impeachment de 1992.
O grande desafio de Alckmin será afastar sua candidatura do governo do presidente Michel Temer (MDB), com qual tem ligações siamesas. Além de ter chegado ao poder há dois anos com o impeachment da presidenta Dilma Rousseff Rousseff (PT) apoiado pelo PSDB de Geraldo Alckmin, Temer está emprestando à candidatura do tucano toda a base do seu governo, representada pelos partidos que compõem o Centrão. Somada à participação do PSDB no governo Temer, com diversos ministérios, essas lembranças estão mais frescas na memória do eleitor do que o combate à inflação.
Alckmin ainda terá a difícil missão de provar que tirar Dilma do poder e governar com Temer foi a melhor solução para o país, que deu marcha à ré no crescimento econômico e convive hoje com um contingente de 13,5 milhões de desempregados. Isso é como se todos os moradores de São Paulo, a maior cidade brasileira, estivessem desempregados.
Com absoluta liderança em todas as pesquisas de intenção de voto para a eleição de outubro, o ex-presidente Lula provavelmente seria eleito ainda no primeiro turno caso a sua candidatura se concretizasse. Como as pesquisas também mostram o potencial de Lula transferir votos para outro candidato que tiver a sua benção, esse poste de Lula, que pode ser o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad ou o ex-governador da Bahia Jaques Wagner, terá realizações de quase quatro governos petistas mais vivas na memória do eleitor do que as do PSDB para confrontar com o que Alckmin levar ao debate.