O ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, pré-candidato do PSDB à Presidência da República, empacado nas pesquisas de intenção de votos do Datafolha, onde não consegue romper a marca dos 7% da preferência do eleitorado, sofre agora a ameaça de ser enforcado pelas irregularidades apontadas nas obras do Rodoanel da capital paulista durante os seus dois governos, onde a Polícia Federal e o Ministério Público encontraram superfaturamento da ordem de R$ 600 milhões.
A prisão de Laurence Lourenço, ex-secretário de Transportes e ex-presidente da Dersa nas administrações do PSDB, tende a retirar do pré-candidato tucano o seu discurso de combatente da corrupção. No ninho tucano, já se teme a possibilidade de uma delação de Lourenço, a qual chegou a ser evitada com o relaxamento da prisão de Paulo Vieira de Souza, pelo ministro Gilmar Mendes. Souza, o Paulo Preto, também dirigiu a estatal paulista que administra as rodovias, e sobre ele há suspeitas de ser o operador do PSDB em campanhas abastecidas com caixa dois de recursos desviados do Rodoanel.
Este seria mais um golpe nesta segunda tentativa de Alckmin de subir a rampa do Palácio do Planalto; a primeira foi em 2006, quando foi derrotado por Lula. O ex-governador, que enfrenta resistência de importantes lideranças tucanas para a sua pretensão, como do prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto, que já ameaçou disputar com Alckmin a indicação para o cargo na convenção do partido, luta agora contra o fantasma da candidatura do ex-prefeito de São Paulo e seu afilhado político João Dória, que cresce não apenas no PSDB, mas junto aqueles que defendem um nome capaz de levar uma candidatura de centro ao segundo turno na eleição presidencial de outubro.
Por enquanto candidato do PSDB ao governo de São Paulo, Dória conseguiu nesta semana que passou a importante adesão do PP, que retirou o apoio ao governador Márcio França (PSB), candidato à reeleição preferido de Alckmin. Ao puxar o tapete de França, o PP transferiu para Dória três minutos e meio do seu tempo no rádio e na televisão, aumentando para mais de 22 minutos o tempo que o ex-prefeito terá para levar até a casa do eleitor a sua propaganda eleitoral.
Fora do PSDB, Alckmin é alvo do fogo amigo do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), que com seu 1% no Datafolha costura com o presidente Michel Temer (MDB) a retirada da própria pré-candidatura em favor de Dória. Esse acordo levaria, também, ao abandono da pré-candidatura emedebista do ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles, que também não demonstrou nenhuma viabilidade eleitoral nas pesquisas. Essa articulação tem ainda o dedo do senador Aécio Neves (PSDB-MG), que embora negue, discutiu o assunto em jantar do qual participaram Temer e Maia, na casa do presidente da Câmara, na última quinta-feira.
Embora como presidente nacional do PSDB Geraldo Alckmin tenha o controle da executiva do partido, sua pré-candidatura não deverá resistir a uma nova rodada do Datafolha antes do início da campanha, prazo que ele reivindica para melhorar sua posição nas pesquisas. Isso poderá se tornar ainda mais difícil com o desenrolar das investigações da Operação Pedra no Caminho, que levou à prisão Laurence Lourenço um dos seus principais e mais próximos auxiliares no governo de São Paulo.
Se isso se confirmar, Dória assume a candidatura do PSDB ao Palácio do Planalto, com a vice sendo ocupada pelo DEM com Rodrigo Maia ou com o prefeito de Salvador, ACM Neto. O governador Márcio França teria o caminho livre para sua candidatura à reeleição e, como prêmio de consolação, a Alckmin seria dada uma vaga para concorrer ao Senado.
- Geraldo Seabra é jornalista.