O primeiro debate entre os presidenciáveis, ausente Lula, teve o sabor daqueles primeiros quinze minutos de uma partida de futebol, quando os times ficam se estudando, sem nenhuma exposição a um lance de maior afoiteza. Salvo Ciro Gomes (PDT), Guilherme Boulos (PSol) e o Cabo Daciolo (Patriota), que ensaiaram alguns lançamentos em profundidade, os outros candidatos se mantiveram em cautelosa defesa, inclusive Jair Bolsonaro (PSL), aparentemente o vitorioso do debate, pela omissão os opositores do líder das pesquisas, noves fora Lula, que não exploraram suas contradições. No centro político que Boulos pintou com “cinquenta tons de Temer”, Geraldo Alckmin (PSDB+Centrão), Henrique Meirelles (MDB), Marina Silva (Rede+PV) e Álvaro Dias (Podemos+PSC) não empolgaram.
À exceção de Boulos, poupar Bolsonaro no programa levado ao ar pela Band na noite de ontem e que se estendeu até o início da madrugada desta sexta-feira (10) foi a estratégia escolhida por seus adversários diretos para lhe não oferecer palanque. Assim, evitam que o ex-capitão do Exército avance nas pesquisas para chegar ao primeiro turno da eleição presidencial de outubro com seu discurso de extrema direita maquiado com propostas de um pré-capitalismo no campo econômico e de uma educação espartana, com essa excrescência de militarização do ensino público no país. É que por mais esdrúxulas que possam parecer, as propostas de Bolsonaro ainda encontram eco entre boa parcela dos eleitores da turma dos “cinquenta tons de Temer”.
A estratégia de negar palanque a Bolsonaro no debate da Band serviu também como defesa para pelo menos dois candidatos do centro com propostas que coincidem com as do candidato do PSL, armar a população no campo e na cidade, como defendem respectivamente Alckmin e Dias. Conhecedor dessa parceria dos dois candidatos, Bolsonaro falhou em sua estratégia de buscar desses oponentes diretos apoio à sua proposta armamentista de combate à violência. Aliás, salvo o momento em que Marina, numa troca de figurinhas, levantou a bola para Alckmin cabecear, quando o ex-governador desfilou uma trajetória de queda nos homicídios em São Paulo, o tema violência esteve à parte do debate que foi antecipado exatamente pela divulgação da informação do Fórum Brasileiro de Segurança Pública de que sete pessoas são assassinadas por hora no País.
Meirelles tentou trocar figurinha com Dias ensaiando uma crítica ao governo Dilma Rousseff, mas o ex-governador do Paraná, em seu momento mais feliz no debate, sem tocar o nome da ex-presidenta colocou na conta do ex-presidente do Banco Central de Lula a conta dos juros astronômicos da economia. O ex-ministro da Fazenda de Temer também falhou nas duas tentativas de chamar Alckmin para o ringue, quando posou de pai do Bolsa Família e ouviu do ex-governador que se eleito ampliará o programa com recursos do “bolsa banqueiro”, epíteto do qual Meirelles ainda não conseguiu se libertar, e que o remete a anjo da guarda do sistema financeiro.
Cabo Daciolo também quis se meter na questão dos juros, mas num breve confronto com Alckmin mostrou desconhecer o lugar onde o galo canta. O ataque de Boulos a Bolsonaro soou mais como caso pessoal entre seu o PSol e o candidato do PSL, o que acabou favorecendo Ciro Gomes na lateral esquerda do debate. De uma forma surpreendentemente sensata, ele apresentou as linhas gerais de seu programa de governo, fustigou Alckmin no plano econômico, quando lembrou que o PSDB foi quem aboliu a tributação sobre dividendos que o ex-governador agora promete cobrar. De quebra, desnudou, junto a Álvaro Dias, a aura de moralidade do juiz Sérgio Moro, que, como lembrou o candidato do PDT, recebe um imoral auxílio-moradia de R$ 4.300,00 por mês embora more numa cobertura em Curitiba que faz do triplex atribuído a Lula um minha casa, minha vida.