O diálogo de surdos no debate da nova Lei dos Agrotóxicos

Para uns, defensivos. Para outros, agrotóxicos. Há quem chame de pesticidas. Como se vê, o consenso em torno da nova lei, em debate na Câmara dos Deputados, é impossível

Deputado Luiz Nishimori, relator da Lei dos Agrotóxicos, tramitando na Câmara dos Deputados - Foto: Lucio Bernardo Jr. / Câmara dos Deputados / Arquivo

Diálogo de surdos. Uma sessão patética da Comissão Especial de Agricultura da Câmara, nesta segunda-feira, 16, organizada pelo deputado federal Luiz Nishimori (PR/PR) para debater, com técnicos e ativistas, a nova legislação para o uso de defensivos agrícolas no País.

De um lado, industriais, produtores, técnicos e cientistas de universidades e órgãos especializados em agroquímica do Governo; do outro, ativistas de ONGs ou lideranças de segmentos ligados aos partidos de esquerda, como MST, PT e Greenpeace. Tais posicionamentos eram enunciados ao subirem à tribuna, agradecendo ao convite da deputada federal Jandira Feghali (PCdoB/RJ), que integra a comissão.

O tema do encontro, organizado pelo parlamentar paranaense, que é o relator da nova Lei dos Pesticidas (para os produtores) ou Lei do Veneno (para os ativistas de esquerda) era dar uma passada geral na polêmica.

A proposta do encontro foi do deputado Nishimori, relator do projeto em tramitação, que está em vias de ser enviado ao plenário da Câmara para votação.

Agrotóxicos, pesticidas ou defensivos?

O parlamentar paranaense é o autor do substitutivo ao PL 6299/02 e 29 apensos, que flexibiliza a o uso destes produtos tecnicamente chamados de defensivos, mas denominados, pelos ativistas, de “agrotóxicos”, e pelos técnicos e acadêmicos, de “pesticidas”. O locutor da TV Câmara que transmitia a sessão, em cima d

Deputada Jandira Feghali – Foto: Orlando Brito

o muro, denominando de “agroquímicos”. E assim foi a sessão.

O deputado Nishimori chamou à tribuna e deu a palavra a um a um dos inscritos convidados, representando todos os segmentos envolvidos na polêmica. Com paciência oriental, ouviu sem mover um músculo da face o inacreditável diálogo dos antagonistas. Nem para o risinho irônico, nem para o espanto. Impassível, ouvia e dava a palavra a todos.

Sua habilidade foi intercalar as participações. Subia um ativista, logo em seguida um técnico.

Cada qual com seus argumentos, sem nenhum refutar o outro, embora apresentassem dados e informações frontalmente contrários e conflitantes.

Os ativistas verberavam ameaças à saúde e ao meio-ambiente; os técnicos apresentavam números nacionais e internacionais, impassivelmente, dizendo que tudo o que se faz e se pretende fazer no Brasil está dentro das medidas mundiais dos organizamos de saúde e de agricultura.

O curioso é que nenhum deles se referia ao que dissera o seu antecessor na tribuna, ou sequer duvidava do que se afirmara há poucos momentos. E assim foi até o final.

Um diálogo de surdos. Ninguém quer ouvir o antagonista.

O deputado Nishimori, encerrando a sessão, apenas ponderou que tal veneno não poderia ser tão letal, pois nos tempos da agricultura totalmente orgânica, antes do uso de agrotóxicos, nos anos 1950, a expectativa de vida no Brasil era de 49 anos. Agora, com comida envenenada, passa dos 70 anos e, no seu estado, o Paraná, o que mais usa os agrotóxicos, está em 79 anos.

A lei vai passar no plenário da Câmara dos Deputados, pois, como ficou claramente demonstrado, não é uma questão técnica, mas política.

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