Há meses e a cada nova pesquisa se prevê que o deputado Jair Bolsonaro vai desmoronar a qualquer momento. Há também quem, ao longo do tempo, não consegue entender porque ele mantém um percentual de intenções de voto estável desde a metade do ano passado. Os pregoeiros do fim de Bolsonaro sustentam que quando começar a campanha eleitoral, devido ao pouco tempo de TV que terá, ele vai rolar ladeira abaixo.
Pode ser? Agregam a isso, o fato dele não ter partido e ser um candidato de direita. O atacam dizendo que ele defende a ditadura. Mas não lembram que há liberais, social democratas e jornalistas que se referem a ela como “ditabranda”. Sem falar no fato de que a maioria do eleitorado não viveu naquela época e que o índice de leitura e instrução do país, responsável pela memória, é muito baixo.
Nestes dias, alguns começam a vender a tese, no mercado da política, de que sem Lula acaba a polarização direita x esquerda e, com isso, Bolsonaro vai desabar. Estes analistas não consideram que Bolsonaro habita a praia da antipolítica, que está associada ao combate a corrupção. Prática que, em diferentes gradações, atinge a todos os partidos e políticos tradicionais. Não há quem possa superar Bolsonaro, Joaquim Barbosa e Ciro Gomes na condenação da corrupção. Este quesito, no entanto, não é o único que explica o desempenho de Bolsonaro.
Pesquisa do Ibope, feita de 22 a 26 de fevereiro deste ano, revela que o índice de conservadorismo dos brasileiros vem aumentando a cada ano. Era de 0,657 em 2010, subiu para 0,685 em 2016 e neste ano foi para 0,689. Ou seja, o Brasil está quase alcançando o patamar 7, o de alto grau de conservadorismo. Esta pesquisa feita em 2010 registrou que 49% dos entrevistados tinham alto grau de conservadorismo e que este segmento é de 55% em 2018.
Isso significa que quem defender as teses conservadoras terá um público cativo disposto a ouvi-lo, apoia-lo e a dar seu voto. As teses que o capitão da reserva do Exército defende, e que provocam ojeriza, podem cair nas graças de um percentual relevante dos eleitores.
Quem teria coragem de defender certas teses conservadoras? Somente Bolsonaro! Ele deve acreditar nelas. Vamos em frente e vamos aos dados. Sabem quantos dos entrevistados na pesquisa são contra a legalização do aborto? O índice é de 80%. Sabem quantos são favoráveis à pena de morte? O percentual é de 45%. Chegam a 73% os que defendem a redução da maioridade penal. Os contrários ao casamento entre homossexuais é de 50%. E o percentual daqueles que defendem a prisão perpétua para crimes hediondos é de 77%.
Os brasileiros são tolerantes. Aceitam e compreendem algumas dessas práticas, mas se identificam com os que têm posições mais duras e radicais. Num país em que a violência urbana cresce e a corrupção pública é exposta, candidatos radicais ganham espaço. O radicalismo não é uma debilidade nossa, como gostam de afirmar os intelectuais colonizados, mas é compartilhada, por exemplo, pelos Estados Unidos de Donald Trump. E está relacionado ao crescimento eleitoral de novos partidos, de outsiders, de movimentos antipolítica e de partidos fascistas na Europa.